O cônsul comercial chinês, Zhang Jisan, afirmou ontem que a China pode rechaçar a regulamentação da possibilidade de se adotar salvaguardas (barreiras comerciais) contra o seu país anunciada pelo governo brasileiro. No fórum ?Brasil-China de Negócios – Setor Eletroeletrônico?, Jisan disse que o seu país vai utilizar as estratégias necessárias para enfrentar ?coisas desagradáveis?.

continua após a publicidade

?Se o Brasil adotar salvaguardas, a China também pode adotar salvaguardas. O governo chinês defenderá as empresas chinesas. Mas nós temos um bom relacionamento com o governo brasileiro?, disse.

O cônsul chinês afirmou que pretende negociar com o governo brasileiro para evitar as barreiras. ?O governo brasileiro saberá agir de forma adequada. Não vamos tomar nenhuma atitude leviana que prejudique a relação bilateral.?

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, disse que o Brasil pretende consultar o governo chinês, quando houver ameaça de danos ao comércio, antes de adotar as salvaguardas. ?Regulamentar a possibilidade das salvaguardas não significa que o Brasil vai aplicá-las?, afirmou.

continua após a publicidade

Tanto Ramalho quanto Jisan disseram que uma eventual adoção de salvaguardas poderia vir a atender pedido do setor têxtil, que representa a maior parte das importações brasileiras da China.

Ramalho negou que o processo de regulamentação das barreiras comerciais tenha relação com a oficialização da China como uma economia de mercado.

continua após a publicidade

As salvaguardas podem ser aplicadas por meio de cotas às importações provenientes da China, sobretaxas ou as duas formas combinadas.

As medidas que o Brasil ameaça adotar

As salvaguardas que o governo brasileiro pode adotar estarão previstas em dois decretos: um para têxteis, que terá validade até 2008 e outro para os demais produtos, válido até 2013. Elas só serão adotadas após um período de investigação, que pode durar entre dois e oito meses – abaixo do prazo considerado normal pelo ministério, que é de 12 meses. A decisão final será dos ministros que fazem parte da Camex (Câmara de Comércio Exterior) – entre eles estão Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), Antônio Palocci (Fazenda) e Celso Amorim (Relações Exteriores).

Caso a salvaguarda seja adotada, o Brasil poderá impor aos produtos chineses uma tarifa de importação adicional, restrições quantitativas (cotas) ou as duas restrições combinadas. As taxas e as cotas não serão fixas e irão variar de acordo com o impacto que a importação do produto tem no mercado interno.

Entre janeiro a abril deste ano as importações provenientes da China tiveram crescimento de 58,3% contra igual período do ano passado, chegando a US$ 1,437 bilhão. Um dos maiores crescimentos ocorreu na área têxtil, onde houve incremento de 148%. No caso dos produtos de vídeo, o aumento foi de 227%.

OMC

O uso desse instrumento de defesa comercial contra a China está previsto no acordo de adesão daquele país à OMC (Organização Mundial de Comércio), em dezembro de 2001.

O país admitiu a aplicação de salvaguardas contra os produtos chineses por um período de 15 anos. Isso é uma espécie de taxa para entrar na OMC. Estados Unidos, União Européia e Argentina já regulamentaram salvaguardas contra a China.

Em novembro do ano passado, o Brasil reconheceu a China como uma economia de mercado. No entanto, esse reconhecimento ainda não foi formalizado.