O resultado negativo do saldo em transações correntes (todas as movimentações do Brasil com o exterior), no mês de março e no trimestre, de US$ 4,429 bilhões e US$ 10,757 bilhões, respectivamente, foi o maior para esses períodos desde o início da série histórica do Banco Central, de 1947. A projeção do Banco Central é de que em abril o déficit chegue a US$ 2,8 bilhões e, no ano, a US$ 12 bilhões. A próxima revisão de projeções do Banco Central será feita em junho. De acordo com o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, esse resultado é influenciado, principalmente no mês de março, pela redução do saldo comercial (exportações menos importações) e pelo aumento das remessas de lucro e dividendos de empresas estrangeiras no Brasil para o exterior.
Segundo Lopes, o crescimento das remessas ao exterior no valor de US$ 8,662 bilhões no trimestre, bem maior dos que os US$ 3,965 bilhões registrados no mesmo período do ano passado ocorre devido apreciação do real frente ao dólar, o que torna o valor enviado mais elevado. Outro fator é o aumento do estoque de Investimento Estrangeiro Direto e em ações, ou seja, as empresas estrangeiras investem, têm lucros e enviam para o exterior. "Quando se tem uma economia crescendo de forma significativa, você tem uma rentabilidade expressiva e isso leva a mais remessas.
Lopes citou ainda que, com a crise na economia internacional, as empresas estrangeiras no Brasil remetem recursos para cobrir dívidas no exterior. "Os setores que mais remetem são financeiro automotivo e metalúrgico. Os dois primeiros têm uma rentabilidade expressiva na economia doméstica e têm enfrentado dificuldades mais pronunciadas no exterior. Portanto, há nesse processo a possibilidade de remessas para cobertura de necessidades de recursos no exterior".
Lopes explicou que esse déficit é coberto pela entrada de Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil, que no primeiro trimestre do ano chegou a US$ 8,799 bilhões. Segundo ele, as empresas multinacionais que investem no Brasil são também as que mais remetem recursos ao exterior.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, não é arriscado depender do capital externo para financiar o déficit em transações correntes. "Já vivenciamos coisas expressivamente piores: déficit de transações correntes insustentáveis e sem fluxo de recursos. Hoje, temos déficits perfeitamente sustentáveis e financiáveis. A economia brasileira atingiu um patamar de atração de recursos sustentáveis que é muito importante. Por mais que se tenha resultado deficitário, você tem uma fonte de financiamento assegura.