Saldo comercial pode cair pela metade este ano

O saldo comercial brasileiro deste ano poderá ser metade do que foi no ano passado. Com o expressivo crescimento das importações, bancos e instituições de economia já estão revisando para baixo suas previsões de superávit para 2008. As estimativas, que rondavam a casa dos US$ 30 bilhões até semanas atrás, já caminham para um nível mais próximo dos US$ 20 bilhões. Em 2007, a diferença entre as exportações e as importações brasileiras somou US$ 40 bilhões.

Caso o valor se confirme, será o menor saldo comercial desde 2003, ano em que, influenciado pela forte desvalorização cambial, o superávit foi de US$ 24,8 bilhões. Na prática, o Brasil passou seis anos com déficits na balança comercial, de 1995 a 2000. Neste ano, uma forte desvalorização do real, em janeiro, acabou ajudando a reverter a curva de sucessivos saldos negativos nos anos seguintes. Já no ano seguinte, o superávit foi de US$ 2,7 bilhões, resultado que em 2002 saltou para US$ 13,1 bilhões.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, conta que as revisões estão sendo motivadas pelos resultados que "vieram muitos ruins nestes dois meses e meio do ano". O superávit acumulado de primeiro de janeiro a meados de março foi de US$ 2,194 bilhões. No mesmo período do ano passado o valor era de US$ 6,404 bilhões. Vale explica que a projeção da consultoria era de US$ 28 bilhões e já estava com "viés de baixa" nas últimas semanas.

"As importações estão crescendo muito mais do que as exportações. O câmbio está muito baixo e as empresas estão recorrendo a compras no exterior. E o crescimento das importações está sendo generalizado, por várias categorias de produtos. Avança em todos os setores", explica o vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

De forma geral, o mercado vinha esperando um saldo comercial em torno de US$ 30 bilhões para este ano. A barreira dos US$ 20 bilhões seria batida apenas no ano que vem. Mas a velocidade das importações provavelmente vai antecipar a chegada a esse nível. O economista do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho, já vinha trabalhando com esta possibilidade desde o fim do ano passado. "Continuamos prevendo balança de US$ 20 bilhões este ano, mas uma extrapolação simples das tendências recentes sugeriria um saldo comercial ainda menor", disse o economista.

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto chegou a estimar, recentemente, que o superávit da balança chegaria a US$ 15 bilhões, resultado de importações crescendo 35% e exportações apenas 10%. Ele projeta que, neste caso, o déficit em conta corrente atingiria US$ 15 bilhões e que isso não seria "problema nenhum". "Como o Brasil está crescendo robustamente, acho que vamos ter um crescimento da importação, o que é muito bom."

A Rosemberg&Associados reduziu as projeções de saldo e elevou as de déficit em conta corrente. A economista da Rosemberg&Associados, Thais Marzola Zara conta que trabalhava com uma perspectiva de superávit da balança comercial de US$ 30 bilhões, montante que foi ajustado para US$ 25 bilhões. Mesmo assim, ela reconhece que um saldo de US$ 20 bilhões é factível para este ano. "Se o preço das commodities cair um pouco e as importações forem um pouco mais fortes, pode-se chegar a este valor", afirmou. Como resultado principalmente do menor saldo comercial, a Rosemberg&Associados ampliou de US$ 9 bilhões para US$ 16 bilhões sua estimativa para o déficit em conta corrente.

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