Rio (AE) – Em paralelo às crescentes disputas comerciais, o saldo comercial do Brasil com China vem despencando progressivamente. Até agosto, o resultado positivo, de US$ 800 milhões, já equivale à metade do superávit do ano passado para o período, de US$ 1,6 bilhão. As importações crescem numa velocidade oito vezes maior que a das exportações para a China. Já há projeções apontando para um superávit em torno de US$ 500 milhões neste ano – o volume é 70% inferior ao de 2004.
A projeção foi feita pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A entidade chegou a estimar déficit com o parceiro asiático para este ano, mas a elevação dos preços de minério e as boas cotações da soja indicam que ainda deverá haver superávit em 2005. O ritmo atual das importações mostra, contudo, que a reversão para um resultado negativo se dará em 2006, segundo o vice-presidente-executivo da AEB, José Augusto de Castro.
Nos primeiros oito meses do ano, conforme os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as importações brasileiras da China cresceram 47%, taxa oito vezes superior ao avanço de 6% das vendas externas para aquele país.
O assunto vem preocupando representantes da indústria. O diretor de comércio exterior do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Humberto Barbato, reconhece que há insumos trazidos da China que ajudam na produção local, mas alerta que itens feitos também no Brasil estão sendo importados em grande quantidade. Ele citou o crescimento nas compras de roupas de malha sintética, pneus para ônibus e caminhões, calçados e outros.
?A abertura com a China traz problemas desse tipo, daí o motivo da preocupação com as negociações na Organização Mundial do Comércio?, disse Barbato. A entidade critica a alternativa de redução das tarifas máximas de importação de bens industriais, conforme defendido em documento do Ministério da Fazenda. Alguns dos setores que se dizem prejudicados com as importações da China são têxteis e calçados, dentre outros.
O executivo da AEB conta que uma parte da pauta é ?interessante?, porque representa insumos para a produção local. A questão, prossegue ele, é que os bens de capital, que refletem investimentos, não figuram na lista de produtos mais importados. Além disso, a pauta de exportações brasileiras para o parceiro asiático é dominada por commodities.
Os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) abertos por produtos vão até julho e mostram que o principal item comprado na China são aparelhos celulares, responsáveis por importações de US$ 262,614 milhões nos sete meses, 38,11% acima do período no ano passado. Apenas este tipo de produto representa quase 10% de todas as importações da China.
Aparecem, ainda, produtos como circuitos eletrônicos integrados (importação de US$ 115,025 milhões) e compostos químicos (US$ 76,767 milhões). Os maiores crescimentos de importação de janeiro a julho do parceiro asiático foram aparelhos transmissores e receptores de telefonia celular (avanço de 282,66%) e dispositivos de cristais líquidos (101,3%) usados basicamente nos monitores de televisão. Outros crescimentos expressivos foram de partes de máquinas processadoras de dados (88,96%) e máquinas de processamento (77,71%).