No ano passado, cerca de 96% das 656 negociações salariais analisadas pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) garantiram, no mínimo, a manutenção do poder de compra dos salários estabelecidos na data-base anterior através de reajustes iguais ou superiores à variação da inflação acumulada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor, calculado pelo instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (INPC-IBGE).
É o que mostra o ?Balanço das Negociações dos Reajustes Salariais em 2006? divulgado ontem pelo Dieese, que informa que 86% das negociações conseguiram aumento acima da inflação acumulada até a data-base. O resultado é o melhor apurado desde que o órgão começou a acompanhar os reajustes salariais, em 1998.
O Paraná contribuiu com 44 acordos e convenções coletivas de trabalhos e, embora o balanço divulgado ontem não apresente números divididos por estados, o economista Sandro Silva, do Dieese-PR, afirma que as negociações no Estado acompanharam o êxito das obtidas em todo o País.
Segundo Silva, a maioria dos acordos firmados no Brasil em 2006 ficou acima da inflação: 74% obtiveram até 3% de reajuste acima do INPC. Em cerca de 12% das negociações, o ganho real superou 3%, ao passo que entre as campanhas que obtiveram o reajuste abaixo da inflação, ou seja, 4% das negociações, o índice não foi menor do que 1%.
?Este bom desempenho se deve ao fato de a inflação no ano passado ter sido baixa e, ao mesmo tempo, o País ter obtido crescimento econômico, embora insatisfatório?, diz Silva. De acordo com o balanço do Dieese, as melhores negociações acontecem em anos que a inflação é mais baixa, mas mesmo assim não são suficientes para repor as perdas salariais dos anos em que as negociações não acompanham a inflação. ?Entre 1996 e 2003, 43% das negociações praticadas resultaram em reajustes inferiores ao INPC?, revela.
Em 2003, por exemplo, quando foi constatado o pior resultado das negociações salariais medidas pelo Dieese, e quando o INPC médio ficou em 17,41%, quase 60% das unidades de negociações não garantiram sequer a reposição inflacionária.
Setores
A distribuição dos reajustes pelos setores econômicos mostra que a proporção de percentuais equivalentes ou maiores que a variação do NPC é praticamente igual na indústria (96,9%), no comércio (96,5%) e nos serviços (95,8%). Porém, a freqüência de aumentos reais de salários é menor neste último setor: 81% contra 91% no comércio e 89% na indústria. ?Acontece que os serviços no Brasil englobam poucas grandes empresas e são mais motivados por convenções coletivas, o que puxa o reajuste para baixo?, diz Silva.
O economista afirma que a expectativa do órgão é que este panorama se mantenha em 2007, principalmente com negociações mais positivas para o trabalhador no primeiro semestre do ano, que em 2006 registraram os piores reajustes devido ao fato de que a inflação acumulada naquele período ainda era alta. ?Somente a partir do meio do ano é que o INPC acumulado ficou abaixo de 3%, favorecendo os acordos?, explica Silva.
