São Paulo – As maiores centrais sindicais do País, CUT e Força Sindical, rejeitam a justificativa de empresários para reajustar preços neste início de ano por terem sofrido pressão de custos, entre outros fatores, pelos reajustes salariais concedidos às categorias com data-base no segundo semestre de 2003. Pouquíssimas categorias obtiveram reposições salariais iguais ou superiores à inflação acumulada até as suas datas-base, garantem os sindicalistas, que no segundo semestre realizaram campanha salarial unificada.
Em São Paulo, somente 20,36% das categorias cutistas obtiveram reposição acima do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em suas respectivas datas-base; 23,71% recuperaram a inflação; e 55,93% ficaram abaixo do INPC no período. “É um absurdo, portanto, que algum empresário justifique os reajustes salariais como um dos fatores para aumento de preços”, avalia o secretário de Comunicação da CUT, Antônio Carlos Spis.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, vai além nas críticas. “Os empresários já tinham ganho antes, com o atraso de recomposição de salários e a inflação acumulada no período, e agora querem ganhar de novo, reajustando os preços”, acusa.
Além dos reajustes salariais, empresários alegam aumentos de custos de matérias-primas e da carga tributária, com a elevação da alíquota da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) de 3,6% para 7%, para justificar os aumentos de preços. “Essas contas precisam ser melhor estudadas” comenta Spis.
O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, lembra ainda que por conta do alto índice de desemprego no País e a evidente dificuldade enfrentada pelas empresas em um 2003 recessivo, o movimento sindical teve “maturidade e negociou acordos salariais realistas”. “A renda do trabalhador continua em queda. A massa salarial caiu ao longo do ano passado. O que esses empresários querem mais?”, indaga.
Na média, a maioria das categorias filiadas à Força Sindical obteve recomposição salarial pelo INPC acumulado até a data-base.
O presidente da central enfatiza, no entanto, o fato de poucos terem obtido aumento real de salário e que, na sua análise, será corroído ainda no primeiro semestre de 2004. “Com esses reajustes então, quem obteve aumento real o perde agora. A sociedade brasileira não pode permitir que essas empresas façam o que bem entendam”, recomenda.
Spis, da CUT, reforça o argumento. “Não é possível aceitar esse tipo de balela empresarial, principalmente porque o governo Lula já mostrou sua intenção em apertar ainda mais o cerco contra a inflação em 2004, com um índice em torno de 6%”, opina.