Entre as duas máscaras que juntas simbolizam o teatro, qual é a que representaria melhor o seu bolso: comédia ou tragédia? Mesmo que a situação seja trágica, dá para incluir cultura e entretenimento na vida sem gastar nada, principalmente nesta época do ano, com as diferentes opções trazidas pelo 23.º Festival de Teatro de Curitiba (FTC).
Mas do mesmo modo que o evento pode ser aproveitado por quem está juntando os centavos, também ameaça as contas daquele que se empolga diante de tantas opções. Há ainda um terceiro grupo, que por motivos diversos simplesmente deixa de aproveitar o festival. E esses também estão na contramão da economia, já que como contribuintes pagam pelo evento, que é custeado em partes por renúncia fiscal (via lei federal de Incentivo à Cultura/Lei Rouanet).
Veteranas do Festival de Teatro de Curitiba, as paulistas Márcia Alves e Melissa Alves vieram juntas de São Vicente para assistir a mais uma edição do evento. “Faz três anos que sempre entre o final de março e o início de abril viajamos para Curitiba a fim de assistir a todas as produções possíveis durante os dias que estamos aqui”, comenta Melissa. “Viajamos de ônibus, ficamos em hostel e combinamos um valor máximo para gastar com a programação. Neste ano, serão R$ 150 em ingressos pagos para nós duas”, descreve Márcia, que vai ficar até amanhã na cidade.
Melissa pretende esticar até sábado, porque quer assistir ao espetáculo de dança Paixão e Fúria – Callas, o Mito -, em homenagem aos 90 anos da cantora lírica Maria Callas e que integra a Mostra Oficial. Ambas afirmam que mesmo com o valor apertado, já que R$ 75 para cada uma permite a compra de um ingresso da Mostra Oficial (entrada inteira custa R$ 60) e sobram R$ 15, elas devem ver pelo menos dez produções.
E não há nenhum milagre da multiplicação. “Tem que saber garimpar nas mostras temáticas do Fringe, como a de Dramaturgia Sesi ou Baiana, e buscar a programação de rua e dos espaços alternativos, pois já vi peças muito boas de graça e paguei por outras que me arrependi”, assegura Márcia. “De qualquer forma, tem que aproveitar o evento para conhecer um pouco do que está se produzindo de Norte a Sul do país. O festival cumpre a função de ser uma espécie de vitrine e também garante formação de público, pois só se aprende a assistir a um espetáculo, assistindo e comparando”, acrescenta.
Movimento oferece ingressos
Outra estratégia usada pelas paulistas e que nas últimas edições do FTC vem beneficiando milhares de pessoas são os ingressos disponibilizados pelo Movimento dos Sem Ingresso (MSI). Criado há 11 anos pela então estudante da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), Débora Cristina dos Santos, hoje professora de teatro e empresária, para suprir uma necessidade inicialmente acadêmica.
Ela recorda que durante os dez dias de festival, os estudantes eram dispensados das aulas para assistir à mostra e posteriormente escrever resenhas valendo nota, só que muitos esbarravam na falta de ingresso e de dinheiro para poder acompanhar tudo. A solução encontrada foi pedir ingressos na porta dos teatros.
“Logo na primeira tentativa, um senhor retirou do bolso uma serpentina de ingressos, porque era funcionário de uma das empresas patrocinadoras e não iria usar todos. Com isso, assisti à peça e ainda ofereci os convites restantes para outras oito pessoas desconhecidas que não tinham conseguido lugar no espetáculo lotado”, recorda.
De lá para cá, a negociação com os ingressos do tipo cortesia ganhou força e novos adeptos ao MSI, a ponto de conseguirem disponibilizar três mil lugares em diferentes espetáculos no evento de 2013. Nesta edição, até segunda-feira eles já tinham atingido a marca de dois mil ingressos disponibilizados, e a meta é ultrapassar os quatro mil ingressos nesta edição.
“Com o tempo, as companhias também passaram a nos procurar para disponibilizar ingressos, já que promovemos uma grande divulgação do evento. Nossa página no Facebook tem mais de mil curtidas e 400 visualiza&cced,il;ões por dia”, explica Débora.
O grupo carioca Elementos Produções, que apresentará no Fringe a montagem Vida de Borboleta – o Musical, pela primeira vez participa do FTC e se interessou pela proposta do MSI. “Para nós que não conhecemos a imprensa daqui é uma bela forma de divulgar o espetáculo, lotar as nossas apresentações e conseguir ingressos para assistir a outras companhias sem gastar, já que é um esforço financeiro trazer 15 atores e dez malas só de figurino”, avalia o diretor Felipe Mello.
A peça trata dos processos de transformação e será apresentada no teatro Cena Hum, nos dias 4, 5 e 6 de abril. Ingressos a R$ 50 e R$ 25 (meia).
De olho no “papa-ingresso”
Para obter um ingresso com o MSI basta ir até o Memorial de Curitiba, no Largo da Ordem, e buscar os ingressos reunidos em um garrafão de água batizado como papa-ingresso. “Qualquer um que tenha consciência que o seu dinheiro de contribuinte já pagou por aquele ingresso, já que o FTC capta milhões via isenção tributária da Lei de Incentivo à Cultura, pode pegar os ingressos conosco”, diz o produtor cultural e ator Anderson Ribeiro.
“Na verdade, quem compra os ingressos do FTC paga duas vezes pelo lugar”, aponta Débora. Durante todos os dias do FTC, das 10h às 18h, sempre tem algum voluntário do MSI para atender os interessados nesses ingressos. Segundo eles, 90% dos que é ofertado são produções do Fringe e 10% da Mostra Oficial.
Neste ano, o MSI deu início a um evento paralelo, chamado “Impressões”, que promove um bate papo periódico entre o público que assistiu à peça e um ator ou diretor da referida produção. “É uma forma de estender a consultoria que ainda fornecemos para quem quer informações sobre as peças”, explica a voluntária do MSI Marisa Thomazzi. O próximo bate-papo acontece na próxima sexta-feira, às 18h, também no Memorial de Curitiba.
De acordo com assessoria de imprensa do FTC, várias pessoas se beneficiam de inúmeros descontos vinculados a empresas patrocinadoras ou dos descontos garantidos a idosos e estudantes. Na mostra Guritiba (infantil), que vai até o dia 13 de abril, o ingresso baixou para R$ 40 (inteira) e a partir do segundo convite os demais são comercializados com 50% de desconto.
