Foto: Rodrigo Leal/Appa

Silão, no Porto de Paranaguá: reservado para soja pura.

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A fila de caminhões que se formou na BR-277 em direção ao Porto de Paranaguá na manhã da última quarta-feira – e que chegou ao fim menos de 24 horas depois – pode ser apenas uma pequena amostra do que está por vir. Com as altas cotações internacionais da soja e do milho e uma produção de soja esperada quase 30% maior do que a do ano passado no Paraná, a expectativa é que o Porto de Paranaguá escoe um volume grande de grãos nos próximos meses. Para o assessor especial da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Carlos Augusto Albuquerque, o que deveria ser uma vantagem para o Estado pode se transformar em um problema.  

?As expectativas não são nada boas. Além da soja do Paraná, o porto recebe ainda grande volume de grãos do Mato Grosso e de Goiás. E uma grande parte dessa soja é transgênica?, apontou Albuquerque. Para ele, é inaceitável que o governo do Estado proíba o silo público – com capacidade para 100 mil toneladas de grãos – de receber soja geneticamente modificada. ?O silo é formado por 10 a 12 células independentes. Para lá vão soja, milho, trigo, sem que haja qualquer mistura. Por que a soja transgênica se misturaria??, questionou Albuquerque.

Outro agravante, segundo ele, é o grande volume de milho que deve ser exportado pelo Paraná na safra atual. ?São 3 a 4 toneladas de milho que devem ser exportadas por Paranaguá, no mesmo período que a soja. O resultado pode ser um supercongestionamento no porto?, afirmou. Para ele, o Porto de Paranaguá estaria numa situação bem melhor caso o governo do Estado tivesse aceitado a proposta do governo federal, em 2002, de ampliar o Cais Oeste e modernizado a área atual. ?Hoje, estamos sofrendo as conseqüências de uma posição arrogante do governo do Estado?, criticou Albuquerque, referindo-se à atitude do governo estadual de cancelar a licitação das obras. ?A Appa (Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina) fez um novo projeto, mas muito pior, que não foi aceito pelo Dnit?, lembrou.

Caso o tempo para descarregar grãos seja de fato lento no Porto de Paranaguá, principalmente em março e abril, as conseqüências podem ser bastante negativas. ?Vai aumentar bastante o custo; o frete vai lá para cima?, comentou Albuquerque. Também a demourrage (tempo que o navio fica ao largo, esperando para atracar) pode encarecer. ?A demourrage é de US$ 45 mil a US$ 50 mil a diária. Imagina isso multiplicado por 30, no que vai resultar.? Em 2004, lembrou, navios chegaram a ficar até 45 dias aguardando a atracação.

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Sobre a crítica feita pelo superintendente da Appa, Eduardo Requião, de que estaria havendo um chamamento de caminhões a maior proposital, para pressionar o porto a receber soja transgênica no silo público, Albuquerque foi enfático. ?O que acontece é que os preços internacionais estão muito bons, e a comercialização este ano deve ser curta?, apontou. Segundo levantamento da Faep, a saca da soja no Estado estava cotada na última quarta-feira a R$ 29,81, contra R$ 38,38 na cotação internacional. Já o milho estava a R$ 16,57 (cotação do Estado) contra R$ 20,54 no mercado internacional. ?Todo mundo está querendo exportar?, apontou.

Goiás

O presidente interino da Federação da Agricultura do Estado de Goiás, José Mário Schreiner, negou que esteja havendo pressão para que o Porto de Paranaguá receba soja transgênica no silo público. ?A Federação de Agricultura de Goiás tem contratos com as trades, exportadoras, que estão olhando e cumprindo os contratos. Não existe ação direta alguma do produtor?, afirmou, contestando a declaração feita pelo superintendente da Appa, Eduardo Requião, na última quarta-feira, de que ?operadores portuários, plantadores, cooperativas e produtores de Mato Grosso e Goiás, como estão diante de supersafra, estão tentando forçar o Porto de Paranaguá a abrir o silão público para a soja transgênica?.

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?Não está havendo qualquer ?forçassão? de barra?, garantiu Schreiner. Segundo ele, Goiás deve produzir este ano 6,5 milhões de toneladas de soja – 60% do volume é transgênico. Segundo ele, o Porto de Paranaguá é um dos principais pontos de escoamento da produção goiana, ao lado de Santos e Vitória. Sobre a possibilidade de filas durante a safra, Schreiner amenizou: ?Os gargalos existem em todos os portos brasileiros, não apenas em Paranaguá. O problema é que isso acaba encarecendo o custo, e quem perde é o produtor rural?.

Cooperativas mantêm otimismo com o escoamento

Para o superintendente da Organização das Cooperativas no Estado do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, apesar dos bons preços internacionais e do aumento do volume de grãos que devem ser exportados pelo Porto de Paranaguá – de aproximadamente 9 milhões de toneladas na safra passada para 12 milhões na atual, ou seja, crescimento de 33% -, a expectativa é que o escoamento ocorra de forma tranqüila. ?Haverá de fato um movimento maior no porto, mas a gente torce para que dê tudo certo. Estamos otimistas?, afirmou. Segundo Ricken, as cooperativas recebem 64% da safra paranaense. ?É uma carga pesada, uma responsabilidade enorme?, comentou.

Segundo o gerente técnico-econômico da Ocepar, Flávio Turra, o Paraná deve produzir este ano 12 milhões de toneladas de soja em grãos – volume quase 30% maior do que o da safra passada. Desse total, cerca de 5,4 milhões devem ser exportados. O preço da saca (60 quilos) pago ao produtor é, em média, de R$ 30,00, contra R$ 25,00 no ano passado. A colheita, segundo ele, vai se concentrar no período que vai de 1.º a 20 de março. ?Cerca de 60% da safra é colhida neste período?, afirmou. Nessa semana, segundo levantamento mais recente da Ocepar, o Paraná havia colhido 13% da safra de soja.

Em relação ao milho, o Paraná deve produzir este ano 8,3 milhões de toneladas, contra 7,7 milhões no ano passado, apesar da redução da área em 10%. Maior exportador de milho, o Paraná deve vender para o mercado externo cerca de 3,5 milhões de toneladas do grão, especialmente para os Estados Unidos, que vêm produzindo etanol a partir do milho. A colheita do milho se concentra, segundo Turra, entre o final de março e o início de abril.

Paraguai vai instalar terminal de cargas líquidas em Paranaguá

São Paulo (AE) – O governo do Paraguai vai construir um terminal de cargas líquidas no Porto de Paranaguá, no Paraná. Segundo informou a agência paranaense de notícias, o presidente da Associação Nacional de Navegação e Portos (ANNP), Omar Alexander Pico Insfran, discutirá o projeto em Assunção, na primeira semana de março, em reunião com o superintendente dos portos paranaenses, Eduardo Requião, e autoridades do governo paraguaio, empresários e técnicos para discutir o projeto.

A intenção do governo paraguaio é utilizar o píer público de inflamáveis para escoar os líquidos armazenados, assim como vai fazer a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) quando o terminal público de álcool for inaugurado no próximo mês. ?Através do terminal, estaremos abrindo uma importante via de saída para líquidos a granel, de exportação, em sua maior parte, de resíduos líquidos de extração industrial (óleos vegetais)?, informou Insfran.

O presidente da ANNP destaca ainda que, no futuro, o Paraguai pretende ampliar as importações de petróleo e seus derivados ?que vão permitir ao Paraguai, em sua condição de país mediterrâneo, uma maior autonomia no abastecimento de hidrocarbonetos?.

Insfran explica que os trâmites administrativos para a obra já estão bem avançados e que o terminal atenderá tanto produtores paraguaios como brasileiros. O terminal paraguaio será construído ao lado do terminal público de álcool, no bairro Vila da Madeira, em Paranaguá. Na mesma região, já estão instaladas empresas que operam com cargas líquidas, como Petrobras, Cattalini e União Vopak.