Sacrificar as 2.212 cabeças de gado da Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, norte do Estado, é a solução menos traumática para colocar fim ao impasse sobre o foco de aftosa no Paraná. A opinião é do deputado federal César Silvestre (PPS), relator da Proposta de Fiscalização e Controle, que tem como objetivo averiguar o caso da doença no Estado. Na quinta-feira, a discussão durante audiência pública na Assembléia Legislativa, em Curitiba, se estendeu por mais de sete horas e terminou por volta das 22h30. Segundo o deputado, o debate não acrescentou muito em relação à audiência realizada na última terça-feira, em Brasília.
?Tanto a secretaria como o ministério (da Agricultura) mantiveram suas posições?, afirmou. A novidade ficou por conta da presença de André Carioba Filho, gerente da Fazenda Cachoeira, onde foi decretado o foco de aftosa pelo Ministério da Agricultura no início do mês. ?Ele afirmou que não há nenhum animal doente e que todos os animais estão engordando normalmente. Para ele, foi uma surpresa?, disse. Carioba afirmou ainda, na quinta-feira, que as novilhas compradas durante o leilão em Londrina engordaram 70 quilos em 65 dias. Carioba disse que aguardaria o resultado da audiência pública para decidir se entraria ou não na Justiça e admitiu que é favorável ao sacrifício, desde que seja indenizado com o preço justo de mercado.
Para o deputado federal, o fato de o gerente da fazenda ter concordado em realizar o sacrifício sanitário já é um passo importante. De acordo com o deputado, ?os dois lados (Estado e União) procuraram uma saída, a menos traumática possível e dentro das normas internacionais?.
Os membros da Comissão de Agricultura da Câmara Federal, segundo Silvestre, vão tentar agendar audiência com o ministro Roberto Rodrigues, da Agricultura, para a próxima terça-feira. ?Vamos chegar lá dizendo que queremos uma solução para o problema. O que traria menor impacto, desde que aceito pelo Ministério da Agricultura, seria o sacrifício dos animais apenas da Fazenda Cachoeira e observação dos animais em propriedades localizadas a um raio de 10 quilômetros. O restante das áreas ficaria liberado?, explicou. ?Já me informei sobre isso, e tecnicamente é algo possível?, garantiu.
Sem acordo
O vice-governador e secretário da Agricultura, Orlando Pessuti, voltou a afirmar ontem que não foi feito nenhum acordo com o Ministério da Agricultura para sacrificar os 2.212 animais suspeitos de ter contraído o vírus da febre aftosa no Paraná. ?Até o momento, a Secretaria da Agricultura e o ministério não fecharam nenhum acordo em relação aos sacrifícios dos animais no Estado. Na semana que vem, vamos decidir o que será feito?, afirmou.
?Por telefone, deixei claro ao secretário nacional de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Gabriel Maciel, que ainda não tomamos nenhuma decisão no que diz respeito ao sacrifício os animais?, comentou. Pessuti lembrou que o ministério se baseou apenas no resultado da sorologia e na origem dos animais para declarar a existência da doença no Paraná.
Imagem arranhada
?A crise da aftosa tem de ser tratada de forma técnica, não política?, criticou o vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho, em nota divulgada ontem. ?Precisamos de diálogo e consenso. Sem entendimento interno, a já arranhada imagem do nosso programa sanitário pode piorar.?
Para Ramalho, os resultados da cadeia produtiva da carne bovina para economia estão acima de qualquer rixa política. ?Passou da hora de termos um discurso único, ainda mais forte em transparência e rapidez na multiplicação de informações.? Na avaliação de Ramalho, as divergências paralisam e trazem insegurança ao setor produtivo e geram desconfiança nos importadores. ?Isso só prejudica os trabalhos para reabertura dos mercados.?
De acordo com o vice-presidente da SRB, o tiroteio de versões para existência ou não de aftosa no Paraná é péssimo para o País. ?É uma questão que deve estar ligada estritamente à comprovação técnica.?