O consumidor pode ter surpresas ao sair para fazer compras de roupas de inverno, nas próximas semanas. A baixa nas temperaturas de Curitiba e Região Metropolitana verificada nos últimos dias já fazem as lojas se prepararem com a nova coleção, que pode ter reajuste médio de 30% nas peças de roupa.
O aumento do preço repassado ao consumidor está sendo influenciado pela disparada do preço do algodão, que vem ocorrendo nos últimos meses. “A situação é horrorosa. A alta foi a maior dos últimos anos, já acumula 170% de reajuste do produto no País, o que é um absurdo. Desde setembro do ano passado, os tecidos já ultrapassaram 45% de reajuste”, calcula Marcos Koslovski, coordenador do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) e presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário do Paraná.
De acordo com Koslovski, a situação tem preocupado o setor, que vai ter que repassar o custo. “As confecções não têm como absorver esse reajuste do algodão. E os tecidos mistos também entraram na carona dos reajustes. Estamos vindo de um período de convenção coletiva, no qual os reajustes também foram significativos. O Paraná tem se destacado como produtor de moda, porém os preços estão deixando os empresários muito preocupados”, afirma.
Incremento na indústria paranaense
Apesar do aumento nos preços da matéria-prima, o crescimento da indústria têxtil paranaense – cuja estimativa é que fique entre 10% e 12% neste ano – é reforçado pelo coordenador do Arranjo Produtivo Local de Maringá e Cianorte, Luis Fernando Ferraz. “O preço do algodão acaba impactando mundialmente, tanto aqui como nas produções do Leste Europeu ou da China. O que é difícil é a competição dos encargos sociais, o que acarreta em uma competitividade diferenciada, pois são custos que outros lugares não têm”, compara. Ainda de acordo com Ferraz, a alta do algodão já está sendo repassada, com aumento de 10% a 20% na produção.
O incômodo com a dificuldade de competição com produtos importados impulsionou empresários do setor a se organizarem para reivindicar medidas protecionistas do governo federal.
No início de abril, empresários e outros envolvidos na indústria têxtil se reúnem para uma manifestação em Brasília, junto com a Frente Parlamentar do Vestuário. “Precisamos pensar com muito mais carinho na indústria do vestuário no Brasil, que caminha por um caminho muito perigoso. Estamos ceifando empregos por causa de produtos importados. A gente não está em uma situação confortável”, alerta Koslovski.
Dificuldades na produção
A alta do algodão já impacta no setor produtivo. O presidente da empresa Fiasul, de Toledo, Augusto José Sperotto, conta que o seu processo produtivo está sendo adiado para esperar melhoras nesse panorama geral. “Adiamos o retorno das férias coletivas por três vezes e, o que era para ter sido feito há 30 dias, está começando apenas nesta segunda-feira (21)”, relata, referindo-se à montagem das máquinas da fábrica.
O empresário cogita a possibilidade de se fechar temporariamente a fábrica, nos próximos meses. “Estamos em uma situação complicada. Pode ser preferível esperar a turbulência passar do que vender com prejuízo”, analisa.
Projeção para os próximos meses
Por enquanto, o quadro é de pouca oferta do algodão para um consumo grande. Para os próximos meses, representantes paranaenses da indústria têxtil vislumbram uma queda na compra do algodão, embora isso não deva ser suficiente.
Mesmo com expectativa de supersafra nacional do algodão – 2 milhões de toneladas – o entrave fica no exterior, com redução da safra norte-americana e a frustração com a safra nos países asiáticos. “Nossa esperança é que no final de abril comece a entrar a pequena safra que temos no Mato Grosso do Sul e São Paulo para atenuar um a crise até julho, quando começa a entrar a produção nacional de algodão”, projeta Sperotto.
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