Roberto Azevêdo, eleito diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), terá de conquistar a confiança dos países desenvolvidos de que vai trabalhar pelo avanço do comércio global e, ao mesmo tempo, terá de atender à expectativa crescente dos países emergentes, que querem preservar interesses. A opinião é de Clinton Carter, vice-presidente para América Latina da Frontier Strategy Group, consultoria de Washington para multinacionais em mercados emergentes e que presta serviços no setor de comércio exterior. “Roberto Azevêdo começará o mandato com o ceticismo do mundo desenvolvido e as expectativas irrealistas do mundo em desenvolvimento.”

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“Azevêdo enfrentará o ceticismo sobre se ele é realmente um defensor do avanço do comércio global”, disse Carter ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, ao comentar que o diplomata brasileiro tornou-se nos últimos anos um “defensor dos interesses dos países em desenvolvimento na OMC”. “Esta defesa tem gerado o bloqueio das intenções de países desenvolvidos, como os Estados Unidos e membros da União Europeia, que tentam avançar com as negociações comerciais”, argumenta.

“Apesar do sucesso no bloqueio dessas iniciativas, os brasileiros não foram bem sucedidos em executar uma visão alternativa e avançar com novas iniciativas de comércio, seja globalmente ou bilateralmente. Na verdade, o Brasil tem mostrado pouco interesse em acordos de livre comércio de qualquer tipo e até o Mercosul tem se tornado cada vez menos útil como um bloco comercial”, diz o consultor.

Clinton Carter tem uma visão bastante crítica da estratégia recente dos países emergentes, que passaram a travar negociações por avaliar que as condições oferecidas são desvantajosas. Para o consultor, a estratégia “une nações em desenvolvimento para dizer ‘não’ aos termos oferecidos pelos países desenvolvidos”. “O que parece ser mais fácil do que unir os países em desenvolvimento em torno de objetivos comuns para criar novos acordos”, argumenta.

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Ao mesmo tempo o consultor afirma que países emergentes têm grandes expectativas sobre o trabalho do novo diretor da OMC. “Meios de comunicação na Índia e outras economias emergentes estão saudando a nomeação do brasileiro como uma vitória para os Brics. Infelizmente, para Roberto Azevêdo, economias emergentes como a China, o Brasil, a África do Sul e Índia têm interesses realmente muito diferentes e políticas distintas quando se trata de promover o comércio global.”

Apesar das críticas, o consultor reconhece que o diplomata brasileiro “proporciona melhores oportunidades” que as oferecidas pelo candidato mexicano, Herminio Blanco. “Países desenvolvidos já estavam ansiosos para retomar negociações e, agora, nações em desenvolvimento podem estar mais inclinadas a participar também. Isto significa uma maior chance de uma retomada da Rodada Doha, embora não haja nenhuma garantia de que as negociações serão retomadas ou bem-sucedidas”, disse ao Broadcast.

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