Risco país fecha no nível mais baixo da história

Dois dias depois do governo divulgar um resultado decepcionante para o Produto Interno Bruto (PIB), o risco país fechou no nível mais baixo da história, em 329 pontos. Analistas reagiram com perplexidade à queda recorde do índice, que demonstra a confiança dos investidores estrangeiros no País, porque os últimos indicadores econômicos e a crise política não justificam tamanho otimismo.

O recorde anterior do risco país, de 337 pontos, foi registrado em 22 de outubro de 1997, data em que o índice começou a ser divulgado.

"Depois de um PIB péssimo, não dá para entender esse recorde de baixa do risco país", diz Marcelo Allain, professor do MBA da Fipe-USP. "Não há uma melhora nos fundamentos brasileiros que justifique essa queda." O risco país, expresso em pontos, mede a diferença entre a remuneração dos títulos de mercados emergentes e a remuneração dos títulos do Tesouro americano de prazo semelhante.

Quando sobe a procura por títulos da dívida externa do Brasil, sobem os preços e cai a remuneração (juros) que o governo precisa dar aos investidores. Caindo a remuneração, cai o risco. Com a queda do risco país, fica mais barato para o governo captar recursos lá fora.

"Os motivos para a queda do risco país são técnicos", acha Allain. Segundo ele, houve uma onda de compras de papéis da dívida brasileira, ao mesmo tempo em que muitos investidores saíram vendendo títulos do Tesouro americano. Resultado: o risco país ficou menor. Ontem, a demanda por títulos brasileiros foi muito forte e o Global 40 chegou à máxima histórica de 124% do valor de face.

De forma geral, a redução do risco país vem ocorrendo em todos os emergentes, independentemente de melhoras nos fundamentos. Países que passaram por problemas políticos, como África do Sul e Filipinas, também tiveram quedas consideráveis em seus riscos.

A liquidez global continua abundante, por isso os investidores mantêm seu interesse por títulos de países emergentes. Isso porque ainda não há previsão de uma elevação significativa nos juros dos EUA e Europa. Essa alta tornaria o retorno dos papéis desses países mais atraente – o que poderia levar investidores a venderem seus títulos de emergentes, para investir nos países ricos.

Já a economista Rachel Fleury, da Tendências Consultoria Integrada, vê uma certa melhora nos fundamentos brasileiros como um fator para o otimismo dos investidores. Ela acha que a notícia do PIB já tinha sido absorvida pelo mercado. "O mercado vê sinais de recuperação da economia e inflação baixa em 2006", diz Rachel.

Além disso, Rachel acha que o mercado ajustou as expectativas para uma elevação menor nos juros dos EUA. Mas, de qualquer jeito, Rachel afirma que a queda do risco país "está desafiando as previsões mais otimistas".

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