São Paulo (AG e agências) – O dólar comercial fechou novamente em alta ontem cotado a R$ 2,793 na compra e R$ 2,795 na venda, com alta de 3,06%. A disparada levou a moeda americana a um preocupante recorde, já que a cotação é a segunda maior no Plano Real. O pico do dólar foi registrado em 21 de setembro de 2001, dez dias após os atentados terroristas do BC, quando a cotação de venda ficou em R$ 2,835. Na máxima do dia, o dólar bateu 2,80%, com alta de 3,17%. Com o resultado de ontem, o dólar acumula valorização de 11,09% no mês de junho.
Além da disparada do dólar, o risco-país brasileiro se manteve nas máximas do dia e, no final da tarde, estava em 1.314 pontos-base, com alta de 8,77% sobre o fechamento de quarta-feira. O indicador é medido pelo banco JP Morgan. Ontem o Brasil ultrapassou o Equador no terceiro lugar do ranking dos países de maior risco. O C-Bond, principal título da dívida brasileira, caía 2,62%, cotado a 65% do seu valor de face. No mercado de juros futuros, o Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro de 2003 projeta taxa anual de 22,34%.
Ao saber do comportamento nervoso do mercado, o presidente Fernando Henrique Cardoso comentou com ironia: “Se o mercado fica nervoso, dá calmante, passa. O que não podemos deixar é o paciente ficar todo prejudicado por causa daquele dia de nervosismo. É preciso manter o equilíbrido das coisas”, disse. O presidente participou de solenidade em comemoração ao dia do diplomata. FHC afirmou também que o Mercosul vai sobreviver a qualquer que seja o resultado das negociações com a União Européia e com a Alca. “Evidentemente esperamos ser passageira a situação argentina, mas, por causa do sistema cambial (dos dois países), desenha-se a possibilidade de voltarmos a sonhar com a moeda única”, disse.
Enquanto isso, em Belo Horizonte, o candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu, por diversas vezes, ontem a teoria de que a volatilidade do mercado nas últimas semanas seja motivada pela liderança dele nas pesquisas. De acordo com Lula, até 31 de dezembro, qualquer movimentação atípica do mercado é responsabilidade do presidente Fernando Henrique Cardoso e da equipe econômica. “As oscilações nos últimos dias são reflexo da vulnerabilidade da economia brasileira ao capital especulativo. O governo brasileiro errou a dose e está pagando por isso.”
Rolagem da dívida
O resultado do primeiro leilão de contratos de swap cambial realizado ontem foi mal recebido pelo mercado financeiro, que já apresenta números assustadores. O BC venderia até 12.500 contratos de swap cambial com vencimento em dezembro deste ano, mas apenas 5.255 contratos foram vendidos. A taxa linear ficou em 13%, considerada alta pelo mercado. O BC realiza um outro leilão agora à tarde, no qual ele comprará swap de 2004 e trocará por 60% em contratos de 2003 e 40% em contratos de 2007. A frustração do mercado é com a incapacidade do governo na tentativa de rolagem de sua dívida. Se antes os investidores estavam fugindo de títulos com vencimento no próximo mandato presidencial, agora eles evitam até mesmo aqueles cujo vencimento ocorre ainda neste ano. Um operador da tesouraria de um banco estrangeiro desabafou que está difícil operar, porque o Banco Central ora encurta sua dívida, ora alonga. Depois de vários leilões para encurtar o prazo de títulos pós-fixados, nesta tarde o BC promoveu um leilão no qual ele volta a sugerir o alongamento da dívida. “Não há ‘hedge’ (proteção) no mercado. O que acontece é que os bancos estão fortemente comprados e devem continuar, porque a palavra mais falada agora é crise. E trata-se de uma crise de sentimento, porque os estrangeiros não querem saber de ativos brasileiros”, disse ele. O mercado praticamente ignora as operações do Banco Central, e mantém a pressão sobre a moeda. Pela manhã, o BC interveio no mercado aberto, tomando recursos das instituições financeiras por 28 dias. É uma operação considerada longa, já que normalmente o BC toma recursos por um ou dois dias.