Risco-Brasil sobe 9% e dólar fecha acima de R$ 3

As turbulências aumentaram ontem no mercado financeiro com o rebaixamento de recomendação para os títulos da dívida brasileira, especulações sobre a votação da reforma da Previdência e boataria sobre mudanças na equipe econômica. O resultado: o dólar comercial subiu 1,18% e fechou a R$ 3,071, o maior nível desde 16 de abril. É a segunda alta consecutiva. Nos dois dias úteis de agosto, a moeda já avançou 3,4%. A Bovespa, que chegou a cair quase 3% ao longo da tarde, encerrou em baixa de 1,45%, aos 12.938 pontos, ficando abaixo de 13 mil pontos, o que não ocorria desde o dia 26 de maio.

O clima negativo, instalado no mercado na semana passada, ganhou força com a notícia de que o banco americano Merrill Lynch rebaixou sua recomendação para os títulos da dívida externa brasileira, alegando a menor atratividade dos papéis.

Nas últimas semanas, os investidores estrangeiros já sinalizavam o interesse de aplicar menos nos ativos de países emergentes, como o Brasil, e reforçar as compras de títulos americanos, que estão em alta e tidos como os mais seguros do mundo.

Para os operadores, a Merrill Lynch abriu a temporada de rebaixamentos dos papéis brasileiros. O efeito disso foi mais um tombo do principal título da dívida do país. Ontem à tarde, o C-Bond cai 1,54%, a US$ 0,84, menor valor em quatro meses.

Espelho dos preços desses papéis, o risco-Brasil, medido pelo banco americano JP Morgan, superou o patamar de 900 pontos, o que não ocorria desde o final de maio. Durante a tarde, o indicador atingiu 901 pontos, uma expressiva alta de 9,07%.

Especulação

Entre as razões para a chamada “tensão do mercado”, estão as “incertezas” sobre a aprovação da reforma da Previdência. O governo quer votar o projeto, no plenário da Câmara, nesta semana.

Houve ainda, mais uma vez, uma dose elevada de especulação na alta da moeda. Alguns chegaram a se aproveitar de boatos espalhados no exterior de que o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, deixaria o cargo. O governo evitou polemizar e não quis divulgar nota oficial desmentindo a história. Comentou-se ainda sobre a saída do diretor do BC, Benny Parnes, que assumiu o cargo na gestão passada de Armínio Fraga.

Na avaliação de operadores, a oscilação da moeda americana entre R$ 3,00 e R$ 3,20 interessa ao governo, pois favorece o comércio exterior e garante um maior superávit comercial.

Rolagem de dívida

Uma ala otimista do mercado prevê uma queda da moeda hoje para “corrigir a alta exagerada” dos últimos dias, buscando sinais de que a proposta da reforma da Previdência será aprovada amanhã.

Os bancos também se preparam para a primeira etapa de rolagem de uma dívida cambial de US$ 1,327 bilhão que vence no próximo dia 14. O primeiro leilão para renovar os papéis deve ocorrer na quarta.

Medidas recentes tomadas pelo Banco Central também contribuem para a tendência de alta do dólar.

No último dia 2 de julho, o BC abriu espaço para os bancos comprarem mais dólares. O BC alterou uma norma, afrouxando uma exigência de capital das instituições operarem no mercado de câmbio. Ou seja, deixou os bancos com mais “munição” para pressionar as cotações.

Já no último dia 26 de maio, o BC mudou uma regra para renovar a dívida pública atrelada ao dólar. Na prática, sinalizou que pretende vender menos papéis ao mercado para rolar os vencimentos. Com isso, os bancos “cobrem” essa oferta menor do BC comprando mais a moeda americana.

Existe ainda uma demanda extra por dólar no mercado. Até dezembro, empresas e bancos precisam de quase US$ 7 bilhões para pagar dívidas no exterior. Só em agosto, vencem cerca de US$ 950 milhões. Há uma maior concentração de vencimentos neste semestre do que no primeiro.

Entenda como ele é calculado

O chamado risco soberano reflete a percepção de segurança que os investidores externos têm em relação a um país. Esse risco é medido pelo número de pontos percentuais de juros que determinado governo tem de pagar a mais que os Estados Unidos para conseguir empréstimos no exterior.

A taxa de risco de um país afeta não apenas as finanças do governo, mas toda a economia. Quando o risco soberano de um país aumenta, os títulos emitidos pelo governo ficam mais atrativos para os bancos.

Em consequência disso, as instituições financeiras destinam uma fatia maior de seus investimentos para comprar esses títulos públicos, reduzindo os recursos disponíveis para financiar operações de crédito e investimento.

A menor oferta de crédito no mercado acaba levando a um aumento das taxas de juros, o que, por outro lado, acaba freando a economia.

Investidores externos dizem que cobram muito para emprestar para o Brasil porque têm dúvidas quanto ao futuro político e econômico do País.

Outro argumento usado para explicar o alto risco- Brasil é que, na década de 80, o País promoveu duas vezes o calote de sua dívida externa, o que ainda gera insegurança no mercado.

Meirelles diz que situação “é normal”

Belo Horizonte

(AE) – O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, considerou “natural” a alta do dólar e do risco-País nos últimos dias e disse que não é preciso, nem aconselhável, “dramatizar” o nervosismo do mercado financeiro. Embora tenha se negado a analisar a possível influência do recrudescimento das tensões socais no recente mau humor do mercado, Meirelles relacionou entre os “fatores internos” que contribuíram para as oscilações a expectativa em torno da aprovação no Congresso das reformas estruturais. No cenário externo, ele frisou que a elevação das taxas dos títulos do Tesouro norte-americano está reduzindo a liquidez disponível para os países emergentes.

“Eu acho que os movimentos de mercado são naturais. Nós não precisamos, não devemos dramatizar os movimentos de mercado” disse o presidente do BC, após se reunir com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). “Os mercados tendem a ficar mais otimistas, mais pessimistas, e isso é um fenômeno natural e eu acho que o que nós devemos é não nos preocupar em excesso. Devemos nos preocupar muito, sim, em fazer o nosso dever de casa”.

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