As incertezas em relação ao desfecho das eleições presidenciais, aliadas a um cenário externo mais tumultuado para os países emergentes, fizeram o risco Brasil dobrar neste ano. O CDS (credit default swap, uma espécie de seguro contra calotes da dívida de países), que estava em 140 pontos em janeiro, está agora em 282 pontos – depois de alcançar 310 em agosto. Entre os principais emergentes, o Brasil só está melhor que Argentina, cujo risco país está em torno de 700 pontos, e a Turquia, na casa dos 500.

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O risco país é uma espécie de sobretaxa que se paga em relação aos títulos do Tesouro americano, considerados os papéis mais seguros do mundo. Ou seja, quanto maior o risco, mais o investidor estrangeiro quer receber de juros para comprar os papéis daquele país, já que a possibilidade de um calote é considerada mais alta. Na prática, um risco país alto acaba afugentando investimentos. Em 2008, quando o Brasil conquistou o grau de investimento pelas agências internacionais (que é um selo de bom pagador), o CDS estava em cerca de 100 pontos.

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No caso brasileiro, segundo analistas, a eleição é a principal responsável pelo aumento do risco país. E a avaliação é que esses números podem subir ainda mais, dependendo do quadro que se desenhar para o segundo turno.

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Economistas ressaltam que a principal preocupação do mercado financeiro é se o novo presidente vai prosseguir com o ajuste fiscal, pois a dívida pública brasileira tem trajetória considerada insustentável. Uma das principais medidas de solvência de um país, a relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil está perto de 80%, enquanto a média dos emergentes é de 50%.

Fragilidade

Na avaliação do ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital, os eventos no mercado doméstico têm sido responsáveis pela determinação de 90% dos preços dos ativos, incluindo as taxas do CDS. Ele ressalta que o mercado externo está mais desafiador para os emergentes como um todo, mas são os países mais fragilizados internamente – Brasil, África do Sul, Argentina e Turquia – que estão sofrendo. São esses países que tiveram maior alta do dólar em 2018. Só na Argentina, a divisa dos Estados Unidos subiu 103%, enquanto na Turquia avançou 68%. No Brasil, a moeda saiu da casa dos R$ 3,20 para o nível de R$ 4,10 – um avanço de 24,5% no ano.

Essa piora dos preços dos ativos brasileiros, incluindo o CDS, só vai se reverter “quando e se” os investidores tiverem uma visão mais clara de como será a política econômica do próximo presidente, ressalta o ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, sócio da consultoria Tendências. “Na ausência de sinais mais claros, o mercado vai ficar na defensiva”, afirma.

Faltando menos de um mês para os brasileiros irem às urnas, ele ressalta que cinco candidatos, com perfis bem diferentes, têm chances claras de chegar ao segundo turno. Ciro Gomes (PDT), por exemplo, tem defendido a revogação do teto de gastos, enquanto Jair Bolsonaro (PSL), sem alianças com outros partidos, traz dúvidas sobre governabilidade, e Fernando Haddad (PT) rejeita a reforma da Previdência.

A primeira medida do próximo presidente, avalia Figueiredo, precisa ser a reforma da Previdência, para restabelecer a confiança dos agentes e destravar a economia. Nesse ambiente, quando nomes que não defendem a urgência do ajuste fiscal sobem nas pesquisas de intenção de voto, os preços dos ativos pioram e o risco Brasil sobe, acrescenta o gestor.

Setor externo

Na eleição de 2002, o risco do Brasil chegou a encostar em 4 mil pontos, mas os especialistas ressaltam que, além da metodologia diferente no cálculo, o contexto na economia brasileira era bem diferente. As contas externas estavam muito ruins e o País era endividado em dólar: tinha um passivo de US$ 164 bilhões e apenas US$ 37 bilhões em reservas internacionais. Agora, além de ter reservas de US$ 380 bilhões, é credor líquido em moeda estrangeira.

O gestor de um fundo de investimentos em Nova York ressalta que se não fosse essa condição, o Brasil estaria em situação muito pior agora, como está a Argentina, que tem dívida elevada em dólar e déficit em conta corrente de 5,0% do PIB. O déficit brasileiro em conta corrente deve ficar em 0,1% este ano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.