O risco Brasil medido pelo Credit Default Swap (CDS), o prêmio que o investidor paga para ter um seguro contra um eventual calote soberano nos próximos cinco anos, está em queda constante e atingiu as mínimas desde 2014, quando o País ainda era classificado como grau de investimento. Já o risco para período mais longo, nos contratos de dez anos, não tem tido o mesmo comportamento e está caindo em ritmo mais lento, ampliando a distância entre os dois papéis para nível recorde. Na visão dos analistas, um dos fatores que explicam essa diferença é a preocupação com a trajetória fiscal do País, considerada insustentável no médio prazo.

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A diferença entre as taxas dos CDS de cinco e dez anos do Brasil que era de cerca de 30 pontos em 2013, subiu para 50 pontos em 2015, foi para 60 em 2016 e atualmente está em 100 pontos. Os estrategistas de renda fixa ressaltam que o papel mais longo tende sempre a ter uma taxa maior, por causa da menor liquidez e do cenário mais incerto no longo prazo. Mas, no caso brasileiro, eles observam que a discrepância é uma das mais altas na comparação com emergentes.

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“Após o horizonte de cinco anos, nota-se um acentuado agravamento da percepção de risco (do Brasil)”, ressaltam os analistas da BB Investimentos Wesley Bernabé e Victor Penna em relatório. Para eles, o aumento da distância entre os papéis de cinco e dez anos está em sintonia com o crescente prêmio de risco embutido na ponta longa da curva de juros DI, que reflete a preocupação com o ajuste fiscal e o ceticismo sobre a aprovação da reforma da Previdência no Congresso este ano.

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Os prêmios de risco do Brasil estão caindo junto com o de outros emergentes, por causa do cenário externo favorável, marcado por alta liquidez e maior apetite por risco, afirma o estrategista-chefe da América Latina do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. O CDS de cinco anos já recuou 42% desde janeiro do ano passado.

As perspectivas para a economia mundial seguem favoráveis, os juros e volatilidade estão baixos e os bancos centrais dos países desenvolvidos têm agido de forma coordenada, ressalta Nuno Martins, chefe de estruturação e vendas de derivativos do Bank of America Merrill Lynch no Brasil. “Tem tido um excesso de fluxo para ativos de risco de emergentes”, disse ele.

Otimismo

Mantido esse ambiente favorável e sem surpresas no mercado doméstico, a BB Investimentos avalia que o CDS de cinco anos do Brasil pode cair ainda mais nas próximas semanas, testando novas mínimas.

Nesta sexta-feira, 19, o papel de cinco anos foi negociado a 145 pontos, acumulando queda de 10% só neste ano, segundo fontes do mercado. Logo no início de 2017, a taxa estava na casa dos 250 pontos, mesmo patamar em que as taxas de dez anos estão sendo negociadas agora. O papel de dez anos já recuou 7% neste ano.

Os prêmios de risco do Brasil bateram no topo na segunda metade de 2015 e começo de 2016, por causa da instabilidade política que antecedeu o impeachment da presidente Dilma Rousseff. As taxas do CDS de cinco anos chegaram a 500 pontos e os papéis de dez anos bateram na casa dos 560, ambos nos níveis mais altos entre os principais mercados emergentes. No mesmo período, os papéis de cinco anos da Rússia chegaram a 280 pontos e os da China em 103 pontos.

O otimismo dos investidores com o governo de Michel Temer ajudou a reduzir os prêmios de risco, que só voltaram a subir em maio do ano passado, com a turbulência causada pela delação da JBS. Passado o pior momento, voltaram a recuar.

Com a queda dos prêmios de risco, o Brasil conseguiu nesta sexta reduzir a taxa paga na emissão feita pelo Tesouro, em uma reabertura de um bônus de 30 anos lançado em julho de 2016, ou seja, ainda antes da votação do impeachment de Dilma. A emissão anterior, porém, foi feita com um cenário bem pior em termos de percepção de risco. Naquele momento, o CDS estava na casa dos 300 pontos. A taxa do papel caiu de 5,875% para 5,6%.

Para os analistas do grupo financeiro Nomura, 2018 começa no Brasil com um melhor ambiente macroeconômico e perspectiva de aceleração da expansão do Produto Interno Bruto (PIB), nova queda de juros e inflação comportada. Contudo, em relatório de sexta-feira, o economista para o Brasil João Pedro Ribeiro alerta que “riscos substanciais” associados às eleições e ao cenário fiscal ainda permanecem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.