Berlim
– Grandes empresas alemãs, como o conglomerado industrial Siemens e o grupo financeiro Allianz planejam transferir suas sedes para o estrangeiro para escapar do rigor tributário do governo da aliança entre social-democratas e verdes.De acordo com Helmut Perlet, da presidência do grupo Allianz, proprietário do Dresdner Bank, o segundo maior banco do país, “o programa da coalizão de governo elaborado pelos partidos social-democrata e verde teve a capacidade de arruinar a fama da Alemanha e fez com que muitas grandes empresas começassem a elaborar planos concretos de transferência de suas sedes para o estrangeiro”.
Na sede da Siemens, em Munique, o projeto não foi confirmado, mas o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, um dos mais bem informados do país, relatou que ouviu de fontes seguras sobre os planos de mudança da Siemens.
Embora sediada na Alemanha, o grupo industrial fatura 80% do que ganha no estrangeiro. Com a sede no pais, a companhia tem que prestar contas ao Fisco alemão. O atual governo pretende aumentar o imposto das empresas, que já é de 40% em média, além de voltar a taxar os lucros nas vendas de filiais e de ações.
Michael Rogowski, presidente da Federação das Indústrias da Alemanha (BDI), diz que o governo social-democrata e verde deu um giro de 180 graus em sua politica econômica, impondo uma enorme insegurança ao empresariado:
?- Esse governo tinha uma linha política diferente no seu início, o que pode ser constatado pelo documento Schröder/Blair, pelo qual os dois chefes de governo exigem maior liberalização da economia, mais mercado e menos estado. Agora podemos ver no governo de Berlim um pouco de Keynes e um pouco de hesitação, sem saber direito em que direção ir, como se estivesse na névoa ? diz Rogowski.
Quando foi eleito pela primeira vez, em 1998, Schröder, conhecido por amar charutos cubanos da marca Cohiba (dos mais caros do mundo), tinha a fama de ser “o camarada dos boss”. Camarada pela sua origem social-democrata e boss devido à sua politica de apoio as empresas. Na última campanha eleitoral, ele teria redescoberto, porém, o seu passado de esquerda.
De acordo com os institutos de pesquisa, a decisão do governo de aumentar os impostos reduz as chances de crescimento da economia. As previsões para o desempenho do PIB alemão já eram baixas ? alta de 0,4% em 2002 e de 0,9% no ano que vem.
Desde que a imprensa começou a divulgar o agravamento da crise dos bancos (com muitos créditos duvidosos) e a perda de valor dos imóveis em grandes cidades, os analistas começam a diagnosticar para a Alemanha a “doença japonesa” ? ou seja, paralisia e deflação.
Deflação
Para Norbert Walter, economista-chefe do Deutsche Bank, a Alemanha caminha para uma grave deflação: a inflação é baixa, as ações e os imóveis perdem valor e o dinheiro deixa de circular, em conseqüência da crise dos bancos (que começaram a dificultar novos empréstimos), e da insegurança enorme do consumidor, que deixou de comprar.
Uma das conseqüências da estagnação é o aumento das falências. Só este ano, faliram 40 mil empresas no país, o que faz crescer o desemprego. Cerca de quatro milhões de alemães estão desempregados.
Jürgen Strube, presidente da Basf, afirma que o problema é que a produção na Alemanha, que já era uma das mais caras do mundo, fica ainda mais cara com a decisão do governo de reduzir os subsídios e aumentar os impostos.