Brasília – A Rede Ferroviária Federal (RFFSA) será finalmente extinta, e deixará de herança para o Tesouro Nacional uma dívida que pode chegar a R$ 14 bilhões. A decisão vinha sendo protelada desde 1996, quando as ferrovias foram privatizadas, mas foi confirmada ontem por uma medida provisória. A iniciativa sepulta o movimento de parlamentares que queriam ressuscitar a empresa e afastar um entrave para os investimentos do setor privado.

continua após a publicidade

Como uma parte da dívida veio de ações trabalhistas, alguns juízes estavam interpretando que os novos operadores das ferrovias eram sucessores da Rede, e portanto, deveriam pagar os débitos trabalhistas.

Outros magistrados determinavam a apreensão e o leilão de máquinas e até de locomotivas que foram arrendadas da Rede, prejudicando a operação das empresas.

O secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo César Oliveira Passos, disse que agora o governo definirá alguns projetos prioritários no setor, como a retomada da Ferrovia Norte-Sul, a construção da Nova Transnordestina e a construção do anel ferroviário de São Paulo. Essas obras deverão ser feitas com Parcerias Público Privadas (PPP), mas outras obras estão em estudo, como o novo traçado da Estrada de Ferro Vitória-Minas, a nova linha no Porto de Santos, o trecho da Ferronorte Alto Taquari/Cuiabá, no Mato Grosso, e os contornos de Belo Horizonte (MG) e de Cachoeira-São Felix (BA).

continua após a publicidade

A medida provisória que determinou a extinção da Rede transferiu também a gestão do patrimônio da empresa para o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), do Ministério dos Transportes. As ações judiciais serão assumidas pela Advocacia Geral da União, com a dispensa dos escritórios privados, que recebiam R$ 400 mil mensais pelo trabalho.

Segundo balanço do ministério, a privatização da Rede encerrou um ciclo de prejuízos que somou R$ 16,7 bilhões, e já custou R$ 5,5 bilhões ao Tesouro. As empresas privadas que assumiram o patrimônio operacional da estatal, pagando arrendamento por ele, já investiram R$ 6,3 bilhões desde 1996 e aumentaram o volume de carga em 40%. O Ministério informa ainda que entre 2003 e 2004 essas empresas encomendaram 10 mil novos vagões , reativando a indústria de equipamentos ferroviários no País.

continua após a publicidade

A dívida total da empresa em dezembro de 2004 era de R$ 13,610 bilhões, mas R$ 6,632 bilhões são débitos com a própria União. As ações na Justiça, no entanto, pode elevar o valor líquido para cerca de R$ 14 bilhões. A maior parte da dívida vence em prazo superior a um ano (R$ 10,564 bilhões), e há ainda R$ 1,286 bilhão já vencidos e R$ 1,759 bilhão a vencer em 2005.

Dívida trabalhista de R$ 2,1 bilhões

Depois da União, o maior grupo de credores é formado pelos ex-empregados da empresa, que têm crédito de R$ 2,1 bilhões. Os tributos somam R$ 556 milhões, os financiamentos internos representam R$ 325 milhões e as dívidas com fornecedores e empreiteiros privados atingem R$ 235 milhões. Os R$ 3,760 bilhões restantes não foram detalhados.

As 38 mil ações contra a Rede que correm na Justiça podem gerar um rombo adicional de R$ 6,948 bilhões. Nesse grupo, as ações trabalhistas apresentam um passivo potencial de R$ 2.596 bilhões, as ações cíveis outros R$ 2,891 bilhões. Os débitos fiscais e tributários em juízo somam R$ 1,4 bilhão. O patrimônio líquido da empresa é de apenas R$ 7,4 bilhões. O ativo total da rede é de R$ 21,3 bilhões, mas a maior parte, R$ 19,1 bilhões, são as instalações, trilhos, locomotivas, vagões e outros equipamentos arrendados às empresas privadas na privatização.