Revendedor nega, mas consumidor “vê” cartel

Embora o Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis no Paraná (Sindicombustíveis-PR) esteja sempre negando que donos de postos de combustíveis de Curitiba pratiquem cartel (combinação de preços), os preços semelhantes adotados em postos localizados em diferentes regiões da cidade têm deixado os consumidores bastante desconfiados.

Ontem de manhã, o preço da gasolina variava de R$ 2,08 a R$ 2,09 e o do álcool de R$ 1,17 a R$ 1,19 em postos com bandeiras Texaco, BR, Shell e Ipiranga localizados nas ruas João Tschannerl, no bairro Vista Alegre; Via Vêneto, em Santa Felicidade; Toaldo Túlio, no São Braz; Mário Tourinho, no Seminário; Presidente Arthur Bernardes, no Santa Quitéria; República Argentina, no Água Verde; Bento Viana, no Batel; Capitão Souza Franco, no Bigorrilho; e em uma série de outros espalhados pela capital.

“Rodo muito pela cidade e é difícil encontrar postos que estejam comercializando os combustíveis por valores mais baixos”, comenta o taxista Sérgio Gilberto Barão. “Apenas uma meia dúzia de postos aplica preços diferenciados, sendo que a maioria cobra sempre a mesma coisa, não havendo concorrência entre os estabelecimentos. Tenho quase certeza que existe cartel e que os maiores prejudicados acabam sendo sempre os consumidores.”

O manobrista Marcos Roberto Magalhães, que ontem abastecia seu carro em um posto do bairro Santa Felicidade, é da mesma opinião. Segundo ele, de um dia para o outro todos os estabelecimentos amanhecem com o mesmo preço, o que é considerado bastante suspeito. “Existe cartel sim, e isto é uma falta de respeito à população. Os preços geralmente sobem da noite para o dia, sem muitas explicações, fazendo com que as pessoas tenham dificuldades para encontrar a gasolina e o álcool com valores diferenciados”, acredita. “Está muito difícil encher o tanque do automóvel.”

Proprietários

Assim como o Sindicombustíveis-PR, os proprietários de postos negam que hajam combinações de preços. “Esse negócio de cartel não passa de mentira, lorota que o pessoal fica inventando. Existem quase trezentos postos de combustíveis em Curitiba, como é que todos eles iriam se reunir de um dia para o outro para combinar preços?”, questiona a proprietária de um posto localizado no bairro Seminário e que preferiu não se identificar. “Eu trabalho há três anos no mesmo ponto e sequer conheço o dono do posto vizinho ao meu.”

A alegação do dono de um estabelecimento localizado no bairro Santa Quitéria, Manfred Schmidt Júnior, é de que os estabelecimentos aplicam preços semelhantes por terem custos de manutenção também bastante parecidos. Ele não acredita na existência da prática de cartel. “Eu sigo os valores do mercado. Se postos próximos abaixam ou sobem seus preços eu tenho que fazer o mesmo com os meus para poder acompanhá-los”, diz. “Não há cartel e Curitiba é uma das cidades que ainda aplica os preços mais baixos no País.”

Procon-PR

A cada mês, o Procon-PR realiza, em média, duas pesquisas de preços de combustíveis em Curitiba. Na última, feita nos dias 26 e 27, os preços da gasolina variavam de R$ 1,99 a R$ 2,12 e do álcool de R$ 1,04 a R$ 1,28. Entretanto, vários estabelecimentos aplicavam preços iguais.

“Acredito que há cartel, mas é muito difícil caracterizar a prática porque ninguém (donos de postos e integrantes do Sindicombustíveis) se dispõe a denunciar”, declara o coordenador-geral do Procon-PR, Algaci Túlio. “Não isento os donos de postos, mas acredito que as maiores responsáveis pela prática sejam as distribuidoras, pois são elas que determinam valores.”

Petróleo opera em seu nível mais alto

Os preços do barril de petróleo bateram novos recordes históricos ontem, sendo negociados acima do patamar de US$ 43. As cotações são impulsionadas pela preocupação do mercado em relação à oferta mundial do produto, diante de uma demanda que não pára de crescer e da incerteza de que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tenha condições de contornar a ameça de desabastecimento. Atualmente, o cartel utiliza 95% da sua capacidade de produção, o que deixa um espaço apertado para uma possível manobra de emergência.

O barril do U.S Light está sendo negociado a US$ 43,60, seu maior nível nos últimos 21 anos, desde que o contrato passou a ser negociado na Bolsa Mercantil de Nova York. Em Londres, o Brent opera cotado a US$ 39,88 o barril, seu valor máximo em 14 anos.

O temor de desabastecimento global, no entanto, foi minimizado nesta sexta-feira pelo ministro do Petróleo da Arábia Saudita, Ali al-Naimi. Ele acredita que há petróleo suficente no mercado e uma relação equilibrada entre oferta e demanda.

“A demanda é grande, mas os tanques estão repletos e nossa infra-estrutura está em bom estado”, destacou o ministro saudita.

Naimi lembrou que há fatores conjunturais que escapam ao controle dos produtores, “como a depreciação do dólar e instabilidade nas bolsas”.

“Há muita especulação e isso altera os preços”, acrescentou.

Perda da Petrobras é de R$ 30 mi/dia

A elevação do petróleo -ontem o barril chegou a ser negociado na faixa de US$ 43 -, engordará o resultado das companhias de petróleo, mas não o da Petrobras. O analista Pedro Batista, do banco Pactual, calcula que os preços da gasolina no Brasil (na refinaria e antes dos impostos) está 18% abaixo dos praticados no mercado internacional; enquanto o diesel está 17% abaixo, o que significa uma perda de R$ 30 milhões por dia enquanto o produto estiver em US$ 42. Segundo ele, o ” colchão ” de dinheiro formado no ano passado, quando a estatal não reduziu preços, já acabou. Batista calcula que o colchão da Petrobras era de R$ 2,5 bilhões no início de 2004.

Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura e criador do termo “colchão” em referência aos lucros auferidos pela Petrobras em 2003 calcula que a estatal ainda tem R$ 200 milhões, que deve acabar de 10 a 12 dias. “Pelo andar da carruagem, o lucro dela no ano será de R$ 15 bilhões, no máximo” , diz Pires, para quem os resultados “mostram que a gestão empresarial foi abandonada e agora a gestão é política”.

Emerson Leite, analista do CSFB, diz que o petróleo chegou a um nível insustentável. Entretanto, ele acha difícil prever quando, e se, a Petrobras aumentará seus preços ou se vai aguardar uma estabilização internacional. Sempre cauteloso, Leite acha que, se por um lado “faz sentido” ela ajudar a promover estabilidade nos preços domésticos; cobra mais clareza na forma como são definidos os aumentos ou reduções de preço.

A estratégia adotada pela Petrobras, de alinhar preços tendo como perspectiva o longo prazo, deve se refletir do resultado do segundo trimestre. Isso vale apenas para o Brasil. A Petrobras Argentina anunciou aumento de 1,8% no preço da gasolina “Pódium” e de 2,9% no diesel. No mercado, as projeções giram em torno de um lucro líquido entre R$ 3,5 bilhões e R$ 3,8 bilhões. Se confirmadas, o lucro será menor que o do primeiro trimestre, de R$ 3,97 bilhões.

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