A primeira rodada de negociações de um acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE), após o anúncio oficial de retomada das conversas no dia 17 de maio, será realizada no fim de junho, em Buenos Aires, segundo informou hoje o subsecretário de Integração Econômica Americana e Mercosul da Argentina, embaixador Eduardo Sigal. “Vamos discutir mecanismo de trabalho para a próxima etapa de negociação, que será muito complexa”, afirmou.
Sigal destacou que, embora exista “a vontade política de iniciar o processo negociador”, o acordo não será alcançado “em duas ou três reuniões ou com voluntarismo porque há sensibilidades particulares de ambos os lados”. O ministro Pablo Grinspun, diretor-geral de Mercosul do Ministério de Relações Exteriores da Argentina, país que detém a presidência pro tempore do bloco regional, disse que “a única maneira de avançar em um acordo de livre comércio é se aproximando ao que estipula a Organização Mundial de Comércio (OMC) sobre o substancial de comércio”.
Mas, continuou ele, existem matizes sobre esse “substancial de comércio: para a Europa corresponde 90% dos bens e, para o Mercosul, não é necessariamente 90%”. Desde 2004, quando as negociações foram interrompidas, a oferta do Mercosul englobava cerca de 70% dos bens e agora já se aproxima de 90%. “Decidimos ter como elemento de negociação os setores automotivo e de autopeças, mas não simplesmente entregando-os aos europeus”, afirmou Grinspun.
Segundo o diplomata, o bloco sul-americano vai apresentar uma proposta de abertura do mercado que inclui esses setores, mas será “um acordo a parte”, com condições que impõem aos europeus transferência de tecnologia e de plataformas de distintos modelos de veículos para o Mercosul. O negociador argentino explicou que o bloco regional vai propor a criação de um comitê para monitorar a situação. “Não seria uma negociação normal de acesso ao mercado, haveria um período de carência importante antes de começar a liberalização do comércio do setor”, ressaltou.
A ideia é estabelecer uma negociação separada sobre o setor automotivo, onde o Mercosul vai pedir mecanismos de salvaguardas para que a indústria regional não seja afetada e compromissos europeus de investimentos na região, detalhou. Grinspun também destacou que a possibilidade do Mercosul incluir esses setores na negociação está sujeita à abertura da Europa à demanda do bloco regional no que diz respeito à agricultura e agroindústria.
“Nós exigimos um grande esforço da Europa nesses setores e vamos exigir a inclusão da maioria dos produtos na cesta de eliminação de alíquotas de importação e, obviamente, há interesse em aumentar o acesso do mercado para a carne bovina e de frango”, concluiu.
