Mesmo com crescimento econômico mais forte, a taxa de desemprego medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) se mantém acima de 10% desde março. Entre os especialistas de mercado de trabalho, há mais de uma explicação sobre o que impede um recuo para o patamar de um dígito.

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Mas, qualquer que seja a linha de análise, o desempenho fraco de setores fortemente empregadores é sempre citado, justificando o anúncio feito na semana passada pelo presidente do BNDES, Luciano Coutinho, de que a nova política industrial vai priorizar, entre outros, os setores intensivos em mão-de-obra.

De acordo com o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira, boa parte da estagnação da taxa de desemprego, apesar do crescimento mais forte do PIB no primeiro trimestre, se deve à baixa absorção de novos trabalhadores pelo mercado de trabalho, sobretudo pela indústria.

No acumulado do ano até maio, o total de pessoas ocupadas aumentou 2,8%, mas a ocupação do setor de "indústria extrativa, de transformação e distribuição de eletricidade, gás e água", que corresponde a 17,1% da população empregada, evoluiu somente 1%.

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Para Pereira, esse comportamento está associado ao baixo crescimento e à retração de setores intensivos de mão-de-obra, fortemente empregadores, como vestuário, calçados e couros, "penalizados pela apreciação cambial e pela concorrência chinesa".

"De fato, o câmbio tem forte papel no comportamento dos setores de calçados, têxteis e confecções e mobiliário", concorda Fábio Romão, economista da LCA Consultores. Mas ele vai além. Para Romão, é o crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) que segura a taxa no nível de dois dígitos.

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Órfãos do câmbio

No Rio Grande do Sul, Estado que concentra o maior número de indústrias de sapatos, a apreciação do real em relação ao dólar provocou 22 mil demissões em 2005, 10 mil em 2006 e 9,5 mil de janeiro a maio de 2007, segundo o presidente do Sindicato Democrático dos Trabalhadores na Indústria Calçadista do Rio Grande do Sul, João Batista Xavier da Silva.

O quadro só não é pior, segundo ele, porque o mercado interno está aquecido e, mesmo com a concorrência chinesa, os fabricantes conseguem colocar seus produtos. O problema está na exportação, que corresponde a 30% da produção da região. De janeiro a maio, as exportações brasileiras de calçados recuaram 6% em volume, por culpa do câmbio, mas o faturamento se manteve na casa dos US$ 760 milhões, porque o preço médio subiu 7%.

O setor têxtil, de vestuário e confecções, que emprega cerca de um milhão de trabalhadores em todo o País, criou 66,433 mil empregos em 2004; 28,8 mil em 2005 e 28,1 mil em 2006. O setor também culpa o câmbio pelo desempenho modesto no emprego, já que a moeda diminuiu a competitividade do produto brasileiro no exterior e estimula as importações muito mais baratas da China.

A indústria de bens mecânicos, que culpa a concorrência chinesa no mercado interno pelo seu desempenho modesto, tinha 216 mil trabalhadores em 2005. No ano seguinte, esse número caiu para 210 mil e se mantém nesse patamar quando se mede o emprego no acumulado de 12 meses até maio de 2007.

O economista Fábio Romão faz uma ressalva importante, que ajuda a entender a manutenção da taxa de desemprego em patamar acima dos 10%. Ele lembra que a pesquisa do IBGE não cobre, por exemplo, segmentos relevantes na geração de emprego, como o sucroalcooleiro e o de alimentos, concentrados fora das regiões metropolitanas que compõem a pesquisa mensal do instituto (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre).