O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, avaliou nesta terça-feira, 24, que o déficit de US$ 23,507 bilhões no saldo de transações correntes em 2016 mostra a magnitude do ajuste das contas externas do País nos últimos dois anos. Ele lembrou que resultado foi o melhor desde 2007, quando houve um superávit no balanço de pagamentos.

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“Essa magnitude pode ser vista na comparação com 2015 e principalmente com 2014, quando o resultado negativo foi de US$ 104,2 bilhões. Ou seja, houve uma redução de 77% em dois anos”, acrescentou. “Em 2016, também houve redução significativa nos déficits, de 60% ante 2015”, completou.

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Rocha disse ainda que o ajuste foi disseminado em todas as rubricas do balanço de pagamentos, ou seja, as contas deficitárias ficaram menos negativas e as superavitárias ficaram mais positivas. “De 2014 para 2016, houve uma melhora de US$ 51 bilhões na balança comercial (de um déficit de US$ 6 bilhões para um superávit de US$ 45 bilhões), uma melhora de US$ 17 bilhões na conta de serviços e uma melhora de US$ 11 bilhões na conta de rendas, que inclui juros”, detalhou.

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De acordo com Rocha, o ajuste nas transações correntes responde à atividade econômica mais fraca, que reduz demanda em geral, e também mostra o papel desempenhado pelo câmbio flutuante. “Além disso, os passivos externos da economia brasileira são hoje majoritariamente em reais, e não em dólar”, alegou.

O economista do BC destacou ainda a resiliência dos Investimentos Diretos no País (IDP) em 2015 e 2016, com crescimento de 6% no ano passado, chegando a US$ 78,929 bilhões. Ele detalhou ainda que a entrada de US$ 15,409 bilhões em IDP em dezembro do ano passado foi o melhor resultado para o último mês do ano desde 2010. “Os maiores ingressos em dezembro foram em veículos automotores, seguidos de comercio e energia elétrica”, detalhou.

Segundo ele, a taxa de câmbio corrente não é tão determinante para o IDP quanto as estratégias setoriais e as perspectivas de longo prazo da economia brasileira. “O IDP é vinculado a decisões de mais longo prazo e pode se manter mesmo em anos de atividade econômica no País muito fraca”, avaliou.

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central disse que o IDP de US$ 15,409 bilhões em dezembro foi importante não apenas para financiar o déficit em transações correntes US$ 5,881 bilhões no mês, como também para cobrir algumas saídas líquidas na conta financeira, como a rubrica de investimentos em renda fixa, que apresentou saída de US$ 2,027 bilhões. “Isso mostra que o financiamento das contas externas tem sido feito com capitais de mais longo prazo”, afirmou.

Conta de serviços

Rocha destacou que o déficit de US$ 30,449 bilhões nas conta de serviços do balanço de pagamentos brasileiro em 2016 foi o menor saldo negativo dede 2010. Segundo ele, essa queda foi disseminada tanto nas rubricas de viagens, transportes e aluguel de equipamentos.

O déficit de US$ 8,473 bilhões na conta de viagens, por exemplo, foi o menor de 2009, refletindo a menor disponibilidade de renda da população. “Mas em dezembro houve aumento nessa conta déficit de US$ 941 milhões, devido ao impacto do câmbio nas decisões de se realizar novas viagens, além das decisões de comprar dólares para viagens futuras”, explicou.

Rocha adiantou as parciais para conta de viagens em janeiro deste ano, até o dia 20 deste mês. Segundo ele, as receitas estavam em US$ 432 milhões e as despesas em US$ 1,121 bilhão, resultado em um déficit de

US$ 689 milhões.

Em transportes, acrescentou o economista do BC, o déficit de 2016 foi um terço menor que o registrado em 2015. “Isso não é surpresa porque essa conta é relacionada com os fluxos de comércio exterior. Em um ano com superávit comercial já era esperado que o déficit em transportes diminuísse”, detalhou.

Remessa de lucros

O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central avaliou que a conta de renda primária não teve uma redução do déficit tão significativa como outras contas do balanço de pagamentos brasileiro, passando de US$ 42,357 bilhões em 2015 para US$ 41,055 bilhões em 2016.

“Isso ocorreu porque os juros permaneceram estáveis, já que boa parte das taxas são prefixadas, enquanto as demais taxas que aumentaram ao longo do ano foram contrabalançadas pela redução do estoque de dívida externa no mesmo período”, explicou.

Segundo ele, a tendência de redução das remessas de lucros e dividendos continuou em 2016, a despeito da resiliência dos IDP nos últimos dois anos. “O estoque dos investimentos estrangeiros aumentou, mas a taxa de câmbio caiu e a atividade econômica segue fraca”, argumentou.

Rocha adiantou que até o dia 20 de janeiro, a conta de juros aponta um pagamento líquido de US$ 2,759 bilhões, enquanto as remessas de lucros e dividendos ao exterior ficou em US$ 736 milhões.

Projeções

O representante do BC informou que a projeção da autoridade monetária para o déficit em transações correntes de janeiro de 2017 é de US$ 6,0 bilhões. Em janeiro de 2016, o saldo negativo no balanço de pagamentos foi de US$ 4,815 bilhões.

Para Rocha, ainda é cedo para afirmar que o aumento no déficit em janeiro na comparação com o mesmo mês do ano anterior significaria uma retomada na economia, cuja fraca atividade vinha forçando o ajuste nas contas externas nos últimos dois anos.

“Esse resultado é uma projeção pontual a partir dos resultados já ocorridos. Quando tivermos mais elementos, poderemos ver uma influência maior da atividade econômica nas contas externas. Essa transmissão não ocorre de maneira tão contemporânea assim”, explicou.