Resultado de maio não reverte trajetória de queda da indústria, diz IBGE

A alta de 0,6% na produção industrial sucede a uma queda acumulada de 3,2% no período de fevereiro a abril e, por isso, é insuficiente para reverter a trajetória de baixa da atividade, afirmou nesta quinta-feira, 2, André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo ele, os mesmos problemas conjunturais, como baixa confiança dos empresários e dos consumidores, seguem afetando o setor produtivo da economia. “Ter um resultado positivo é sempre melhor do que a manutenção de resultados negativos, mas esse resultado não elimina, não reverte a trajetória de queda da produção industrial”, disse Macedo. “Em outras comparações, os resultados são predominantemente negativos. Num primeiro momento, a alta na margem não modifica em nada a análise do setor, que continua marcado pelo menor ritmo de intensidade em sua produção.”

Desde setembro do ano passado, a indústria acumulou uma perda de 5,7%. “Nos últimos nove meses do setor industrial, mesmo com esse avanço em maio, ainda tem um saldo negativo importante a ser eliminado”, frisou o gerente.

O saldo negativo persiste em todas as grandes categorias. A produção de bens de capital, que subiu 0,2% em maio ante abril, acumulou perda de 12,5% entre fevereiro e abril. Já os bens de consumo semi e não duráveis vinham de sete meses de queda, com uma perda acumulada de 8,5% no período, e cresceram 1,2% em maio ante abril.

A produção de bens intermediários continuou caindo em maio e, em quatro meses de perdas, já acumula baixa de 1,9%. Já os bens de consumo duráveis assinalaram a oitava retração seguida, com perda acumulada de 15,5%.

Bens de consumo

As atividades ligadas à categoria de bens de consumo semi e não duráveis foram as que mostraram os principais avanços na produção em maio ante abril e contribuíram para a alta de 0,6% na atividade industrial em maio ante abril, afirmou Macedo. Mesmo assim, não significa que o consumo desses bens, tidos como mais essenciais às famílias, está normalizado.

“O avanço se deu após uma redução de ritmo normal, em função de demanda menor. Pode ser que, no mês seguinte, retorne a um patamar negativo. O que se tem dentro do contexto atual do setor industrial é uma produção tentando se adequar à menor demanda doméstica neste momento”, disse Macedo. Segundo ele, além da tentativa de ajustar estoques, a própria base de comparação baixa contribuiu para que agora houvesse um resultado positivo.

A alta de 1,2% na produção de bens de consumo semi e não duráveis em maio ante abril interrompeu uma sequência de sete quedas, período em que a categoria acumulou uma retração de 8,5%. Nesse intervalo, a indústria mostrou o baque mais intenso da desaceleração na demanda das famílias brasileiras.

Em maio, tiveram desempenho positivo os setores de perfumaria, sabões, detergentes e produtos de limpeza, de bebidas, de vestuário e acessórios e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis. “São produtos mais associados à evolução dos salários, bens mais essenciais”, destacou o gerente do IBGE. Porém, não significa que o consumo vá retornar a patamares de antes, acrescentou.

“Há todas as restrições orçamentárias das famílias, em função das dívidas, do crédito menor, da incerteza em relação ao mercado de trabalho. Todos esses fatores explicam a maior cautela no consumo, e isso acaba de alguma forma explicando comportamento negativo que esse grupamento e a indústria como um todo vem mostrando nos últimos meses”, afirmou Macedo.

Apesar do avanço na produção industrial em maio ante abril, a atividade opera 11,7% abaixo de seu pico histórico, observado em junho de 2013, segundo o IBGE. “É uma distância importante”, observou Macedo. “Mais do que isso, o nível de produção agora é semelhante ao observado em julho de 2009”, acrescentou.

Mesmo com a alta de 0,6% na produção em maio ante abril, não houve “nenhuma modificação” nos fatores conjunturais, segundo Macedo. “O nível de confiança, tanto do empresário quanto do consumidor, continua em níveis historicamente baixos. A demanda doméstica evolui de forma mais lenta, seja porque a taxa de desemprego está em níveis maiores, porque o nível de preços é mais elevado, ou porque a renda está diminuindo”, comentou.

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