O mercado de câmbio brasileiro deve passar pelo menos mais três semanas sem rumo definido, marcado por volatilidades e especulações, avaliam analistas. Ontem, a moeda norte-americana chegou ao final dos negócios com alta de 3,17%, a R$ 3,735 na venda, maior cotação do mês, após abrir a R$ 3,605 (baixa de 0,41%). No meio da tarde, o dólar comercial bateu a máxima do dia, a R$ 3,756 (alta de 3,75%). A bolsa de valores de São Paulo fechou ontem registrando uma forte baixa de 4,28% em relação a sexta-feira passada, e com seu principal indicador, o índice Bovespa, caindo a 8.863 pontos.
Este resultado negativo do mercado brasileiro acontece depois que as eleições de domingo revelaram que haverá segundo turno entre Luiz Inácio Lula da Silva, esquerda, e o oficialista social-democrata José Serra. Sexta-feira passada a bolsa de São Paulo fechou com um resultado pior (-5,25%) que o desta segunda-feira.
Além da expectativa do mercado com a sucessão presidencial, que será definida somente com a realização do segundo turno das eleições, o mês de outubro está ??recheado?? de saídas para pagamentos de vencimentos no exterior de empresas privadas. A diretora de câmbio da corretora AGK, Miriam Tavares, estima que os vencimentos de empresas privadas no exterior para este mês devem somar cerca de US$ 2 bilhões.
A rolagem da dívida interna pública atrelada ao câmbio, no valor de US$ 3,6 bilhões, que vence no próximo dia 17, é outro fator de preocupação. Até agora o Banco Central não anunciou como será feita a rolagem.
Na última sexta-feira, o BC tentou alongar a dívida, mas as taxas cobradas pelas instituições financeiras para aceitar novos papéis foram muito altas e acabaram recusadas pela autoridade monetária. ??A única certeza que se tem com relação ao dólar é que vai continuar volátil e pressionado. O momento continua propício à especulação??, disse Miriam.
A evolução do risco-país brasileiro mostra que o humor dos estrangeiros com relação ao Brasil não é dos melhores. O indicador apontou alta de 4,5%, para 2.052 pontos básicos.
Indiretamente, o risco-país funciona como uma medida da confiança do mercado na capacidade do um país de honrar seus compromissos externos. Quanto maior a probabilidade de calote que o mercado atribui a esse país, maior o risco-país. Assim, quando o indicador brasileiro sobe, ele dá uma sinalização numérica da desconfiança crescente do mercado.
Revisão da inflação
O mercado aumentou o pessimismo em relação ao comportamento do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano e elevou suas projeções de 6,76% para 6,91%, na pesquisa feita semanalmente pelo Banco Central (BC) com um grupo de 100 instituições financeiras e empresas de consultoria. A piora contínua das estimativas vem sendo relacionada pelo BC à depreciação da taxa de câmbio ocorrida nos últimos dias em razão das incertezas sobre os resultados eleitorais e do cenário internacional.
As projeções do mercado para a taxa de câmbio no fim de 2002 subiram de R$ 2,98 para R$ 3,08, segundo a pesquisa, e as estimativas para 2003 passaram de R$ 3,03 para R$ 3,05. A mesma tendência de alta atingiu as previsões de inflação de 2003, que subiram na pesquisa divulgada ontem (7) de 5,50% para 5,53%, afastando-se ainda mais do centro da meta de inflação de 4%.
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