O Banco do Brasil lidera a lista de mais de 2,5 mil credores da Alumini Engenharia (ex-Alusa) – empresa envolvida na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e que está em recuperação judicial desde 20 de janeiro. O banco público detém um quarto da dívida da companhia, que soma quase R$ 1 bilhão. Detalhe: a instituição foi incluída pela empresa na chamada “classe de quirografários”, o que significa não ter garantia para receber o dinheiro. Na lista de prioridades, esses credores ficam no fim da fila.

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Em situação semelhante está o Santander, segundo maior credor da empresa, com R$ 100 milhões a receber. Em seguida, aparece a Guarupart Participações, empresa que controla a Alupar, comandada por Paulo Godoy, ex-presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura (Abdib). Em março do ano passado, depois de dois anos de negociações, o grupo vendeu 75% da então Alusa Engenharia para ex-sócios minoritários da empresa e novos investidores.

No início de agosto, a venda dos 25% restantes foi concluída, após a emissão de debêntures. Nesse processo, a Guarupart ficou credora em cerca de R$ 60 milhões e a Alupar passou a se concentrar no setor de energia. Segundo fontes, que preferem não se identificar, os credores reclamam da coincidência de datas. A Operação Lava Jato foi deflagrada em março de 2014, mesmo mês em que a venda da empresa foi feita. Em setembro, o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, começou sua delação premiada.

Em novembro e dezembro, saíram os nomes das construtoras suspeitas de participar do esquema de corrupção nas obras da estatal. Diante das denúncias, a Petrobras proibiu as companhias de disputar novas obras e suspendeu o pagamento de aditivos. Imediatamente, os bancos fecharam as portas para as empresas a novas linhas de financiamento.

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Na Alumini, os problemas financeiros, que já vinham despontando, se potencializaram. Sem crédito na praça e com a conta bloqueada por uma decisão judicial para amparar os trabalhadores, a empresa não teve outra saída a não ser pedir recuperação judicial em janeiro. O juiz acatou o pedido e agora a companhia tem até o fim de abril para entregar um plano de recuperação, que terá de ser aprovado pelos credores dentro de seis meses.

Contratos

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A situação não é fácil. A empresa não pode participar de novas licitações da estatal e também teve seus contratos rompidos na refinaria Abreu e Lima e no bilionário Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. A esperança é receber os cerca de R$ 1,2 bilhão que a empresa alega ter direito a título de aditivo nas obras executadas no Comperj.

Apesar de os maiores projetos estarem associados à Petrobras, a Alumini toca obras de transmissão, de subestações de energia, de hidrelétricas e de iluminação nos Estados de Mato Grosso, Santa Catarina, Amapá, Amazonas e São Paulo. Além disso, detém participação no Consórcio SP Luz, que presta serviço de iluminação pública, e tem ativos no Chile, Argentina e Costa Rica.

Isso significa que ela teria margem de manobra para levantar dinheiro e honrar, pelo menos, alguns compromissos. “Em processos de recuperação, a venda de ativos pode ser uma saída para reforçar o caixa da empresa”, diz o sócio da Emerenciano, Baggio e Associados – Advogados, Robertson Emerenciano.

Segundo ele, o dinheiro que entra de obras em andamento acaba sendo destinado para pagar despesas do dia a dia, como folha de pagamento e gastos na operação. Conseguir uma obra nova seria um incremento na receita, mas na atual circunstância essa não é a saída, avalia o advogado. Ou seja, a recuperação de uma empresa envolvida num escândalo como a Lava Jato, que investiga denúncias de corrupção, tem efeito devastador no caixa das empresas, pois fecha portas para novos negócios.

Nesse caso específico da Lava Jato, o cenário ainda é muito nebuloso. Não se sabe, por exemplo, que punições as empresas terão, se serão multadas ou se terão de devolver algum dinheiro, afirma um advogado que prefere não se identificar. Aos credores resta aguardar o plano que será apresentado pela empresa.

Além de BB, Santander e Guarupart, outras instituições financeiras têm dinheiro a receber da Alumini. O Banco ABC é credor em R$ 50 milhões; JP Morgan, R$ 38 milhões; e Pine, R$ 23 milhões. Procurados, os bancos afirmaram que não podem falar, pois as operações envolvem sigilo bancário. No início do mês, o Pine informou ao mercado que os valores de créditos de empresas envolvidas na Lava Jato já haviam sido computados – equivalem a 3% da carteira de R$ 9,8 bilhões do banco.

Entre os mais de 2,5 mil credores do Alumini (excluindo os trabalhadores), há de tudo, de locadoras de máquinas e equipamentos à drogaria, de taxas de condomínio a operadoras de celular. Os valores também variam de alguns reais a centenas de milhões de reais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.