Reservas devem fechar o ano em US$ 13 bilhões

Brasília

– As reservas internacionais líquidas do Brasil (já descontados os empréstimos do Fundo Monetário Internacional) devem fechar o ano em US$ 13,6 bilhões. É o nível mais baixo desde 1992, quando somaram US$ 16,9 bilhões. Como o governo acertou com o FMI, em agosto, que as reservas líquidas não podem ficar abaixo de US$ 5 bilhões, será de US$ 8,6 bilhões a munição para a futura diretoria do Banco Central intervir no mercado de câmbio. Este valor é considerado insuficiente por analistas, caso o governo Lula tenha que enfrentar nova forte crise de credibilidade externa no País.

? Esse nível de reserva não faria frente a situações de crise de credibilidade, como a de setembro. Num agravamento de crise, o FMI pode permitir o uso dos empréstimos para honrar compromissos ? diz o analista Roberto Padovani, da Tendências Consultoria.

Somente este ano, o BC gastou US$ 9,3 bilhões para tentar segurar o dólar e mesmo assim a cotação saltou de R$ 2,30, em janeiro, para R$ 3,56 na sexta-feira passada. Somados os recursos do FMI, as reservas do Brasil devem fechar o ano em US$ 36,109 bilhões. Mas o acordo com o Fundo não permite que o dinheiro do empréstimo seja usado em intervenções diretas, como a venda de dólares no mercado.

A margem de manobra do futuro governo para intervir no mercado e conter a especulação fica ainda mais estreita diante dos compromissos externos de US$ 9,2 bilhões que o País precisará honrar em 2003. Ou seja, para manter as reservas estáveis, o BC precisará conseguir no próximo ano pelo menos US$ 9 bilhões em novos empréstimos.

O economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, acredita que o câmbio vai se estabilizar quando o risco-país cair dos atuais 1.600 pontos para menos de 1.000 pontos, facilitando a captação de dólares.

? A taxa de risco tem que baixar para o refinanciamento da dívida externa de empresas e do governo. O câmbio, no entanto, não pode se apreciar muito em relação a essa cotação de cerca de R$ 3,50 porque será essencial manter baixa a necessidade de financiamento externo ? ressalta.

O BC considera que está deixando um volume de reservas internacionais confortável para 2003 e estima que o País vai conseguir pelo menos US$ 4 bilhões em novas captações com títulos externos. Se esse cenário se confirmar, o BC poderá usar praticamente todo o poder de fogo de US$ 8,6 bilhões de que dispõe para combater eventuais especulações no câmbio.

? A conta de compromissos do governo está coberta para o ano que vem. O financiamento externo só não retorna por uma restrição global de crédito. Nesse caso, não seria um problema do Brasil, mas do mundo todo ? avaliou o diretor do Centro de Conjuntura Econômica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Ricardo Carneiro.

Segundo ele, a economia passa por um ajuste importante no déficit em transações correntes (exportações, importações, viagens, juros e remessa de lucros) que caiu de US$ 23 bilhões , em 2001, para US$ 10 bilhões atualmente. O economista lembra que a queda foi provocada a um custo alto, com o menor crescimento da economia e a desvalorização do real, acentuada com a redução na entrada de dólares no País.

A necessidade de financiamento externo é a soma do déficit em transações correntes e vencimentos de dívida externa. O BC estima essa conta em US$ 36,9 bilhões para 2003, sendo US$ 8,9 bilhões em déficit corrente e US$ 28 bilhões em pagamento de dívida. Neste cenário, haverá queda em relação aos US$ 40,7 bilhões previstos para 2002. O Brasil reduziu as transações correntes com o real mais desvalorizado e a economia crescendo pouco, mas teve problemas com a renovação da dívida externa, que acabou pressionando o câmbio.

Em 1998, o FMI estabeleceu que o BC somente poderia usar as reservas internacionais líquidas para os seus pagamentos externos e eventualmente fazer intervenções diretas com a venda de dólares no mercado de câmbio.

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