Foto: João de Noronha/O Estado |
Os jogos do Brasil na Copa prejudicaram o comércio. |
Os dados do varejo nacional relativos a junho não revelam uma desaceleração no ritmo de crescimento das vendas e refletem sobretudo o efeito pontual da Copa do Mundo sobre o setor, segundo avalia Reinaldo Pereira, técnico da coordenação de serviços e comércio do IBGE. Segundo o IBGE, as vendas do varejo caíram 0,38% em junho ante maio, após crescimento de 0,44% em maio ante abril, e cresceram 4,08% em junho ante igual mês de 2005, após um aumento de 7,40% em maio ante maio do ano passado.
Para Pereira, o fechamento das lojas para os jogos do Brasil na Copa do Mundo prejudicou o desempenho do setor no mês. ?Não há, necessariamente, uma desaceleração, porque esses resultados podem ser pontuais, é preciso um período maior para avaliar esses números?, disse.
Renda e crédito
O aumento do rendimento está tendo um efeito maior sobre o desempenho do varejo do que o crédito, segundo o técnico do IBGE. ?Observamos que está havendo uma troca de variável que explica o comportamento do comércio. Em 2005 o crédito claramente era a principal influência sobre o setor, em 2006, parece que começamos a chegar a um limite de crédito e está havendo uma reversão, com a renda se tornando o principal impacto para as vendas do setor?, disse Pereira.
Como exemplo, Pereira sublinhou que as vendas do grupo de super, hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com crescimento de 8,49% em junho ante igual mês de 2005, puxaram o aumento das vendas do varejo (4,08%) nessa base de comparação. No primeiro semestre, com aumento de 7,57% ante igual semestre do ano passado, esse grupo também puxou as vendas do comércio (5 68%).
Pereira observou também que os dados trimestrais e semestrais do setor comprovam que não há desaceleração. O aumento de 5,68% no primeiro semestre deste ano foi superior ao apurado no segundo semestre de 2005 (5,02%) e no primeiro semestre do ano passado (4,64%). Além disso, sempre na comparação com iguais períodos do ano passado, houve aumento de 6,31% nas vendas no segundo trimestre deste ano, maior do que a expansão de 5,03% apurada no primeiro trimestre.
Setores
Os dados da pesquisa mensal de comércio do IBGE em junho ante maio, na série com ajuste sazonal, mostram queda nas vendas em quatro das cinco atividades do setor pesquisadas nessa base de comparação. O técnico da coordenação de serviços e comércio, Reinaldo Pereira, atribui o recuo de 5,07% nas vendas de móveis e eletrodomésticos nessa base de comparação ?provavelmente ao forte aumento do mês anterior (7,22%), que foi resultado do efeito Copa e do aumento real do salário mínimo?.
O recuo de 2,35% nas vendas de tecidos, vestuário e calçados nessa base de comparação é atribuído, segundo Pereira, ?ao inverno não rigoroso que pode ter afetado a venda da coleção de inverno?. As vendas de combustíveis e lubrificantes mantiveram a trajetória de queda, com redução de -0,06%, mas o resultado mais próximo da estabilidade é conseqüência, para Pereira, da ?estabilidade dos preços?. A queda nas vendas de veículos, motos partes e peças (-5,46%) ocorreu, segundo Pereira, por causa da realização da Copa do Mundo e das greves que afetaram o setor automobilístico.
Por outro lado, o crescimento de 1% nas vendas do grupo de super-hipermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo em junho ante maio mostra ?um tímido crescimento provavelmente por causa da deflação ocorrida em vários produtos, associado ao ganho real no salário mínimo?.
CNI confirma precariedade
Brasília (CNI) – Cerca de 40% das pequenas e médias indústrias brasileiras recorrem a financiamentos de curto prazo mais de três vezes ao mês. Entre as grandes empresas, 26,5% lançam mão de empréstimos de curto prazo mais de três vezes ao mês. As informações são da Sondagem Especial, feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que traça o perfil do financiamento de curto prazo no Brasil. Segundo o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, o estudo confirma a precariedade do crédito no País.
?A pesquisa indica que o número de empresas que recorre aos financiamentos de curto prazo é muito baixo?, observa o economista. Ele destaca que isso ocorre porque o crédito no Brasil é caro e de difícil acesso. Essas condições adversas comprometem o desempenho das indústrias. ?Muitas empresas que não usam instrumentos de financiamento de curto prazo perdem a oportunidade de alavancar a produção?, destaca Castelo Branco.
Conforme a pesquisa, as empresas de menor porte são as mais prejudicadas pelas condições do crédito de curto prazo. A maioria dessas indústrias recorre a empréstimos com prazos inferiores a 90 dias, lança mão dos instrumentos de crédito com alto custo e tem nos bancos públicos sua principal fonte de financiamento. Além disso, apenas metade (48,8%) das pequenas e médias empresas consulta três ou mais bancos antes de escolher a linha de financiamento. Entre as grandes empresas, 82% consultam três ou mais instituições financeiras antes de optar por um determinado tipo de empréstimo.
?As grandes empresas têm melhores condições de barganha?, observa Castelo Branco. Conforme a pesquisa da CNI, 32,5% das indústrias de grande porte usam financiamentos com prazos superiores a 90 dias, contra 13,4% das pequenas e médias. Entre as grandes companhias, 54,2% utilizam linhas de crédito específicas para capital de giro, enquanto que 53,5% das pequenas e médias recorrem a financiamentos de conta garantida ou do cheque especial, que têm juros mais elevados.