A renda dos brasileiros evoluiu de Norte a Sul do País, em 2010, e para todas as classes de consumo que, na média, tiveram R$ 138 a mais para gastar. Contudo, a consciência financeira ainda requer atenção, tanto que mesmo com o incremento de quase 40% na renda para consumo – passando de R$ 230, em 2009, para R$ 368, em 2010 – o percentual de pessoas que decidiram poupar parte dos recursos evoluiu 1%, indo de 7% para 8%. No Sul, o número de poupadores regrediu 1%, embora, em valores nominais a região apresente uma quantia de R$ 600 de poupança, cifra superior a média brasileira de R$ 528.
Tais informações integram a pesquisa O Observador Brasil 2011, divulgada nesta terça-feira (22) pela diretoria da Cetelen BGN Brasil, que há seis anos realiza estudos periódicos sobre o varejo e oconsumo no Brasil. “Além de avaliarmos como se deu o comportamento dos consumidores em 2010 e como eles usaram o crédito e a notória expansão da renda, também notamos em todas as regiões e classes analisadas, um grande otimismo em relação a 2011”, destacou o presidente da Cetelen BGN Brasil, Marcos Westphalen Etchegoyen.
Segundo ele, mesmo com as medidas de contenção ao crédito e aumento na taxa de juros, tais intenções vêm se concretizando. “Nos meses de janeiro e fevereiro foram mantidos os bons patamares de compras e de baixa inadimplência, ou seja, na prática, pelo menos por enquanto, os brasileiros têm concretizado seus planos de consumo”, explicou.
A principal razão de tamanho otimismo tem relação direta com a mudança na estrutura da pirâmide social iniciada em 2005 e que, em 2010, ficou ainda mais exuberante, com todas as classes sociais rompendo os R$ 100 de renda disponível. Para se ter uma ideia do que isso representa, em 2005, as classes D e E apresentavam média de renda disponível negativa. Em termos práticos, esse dado demonstrava que somando todos os gastos das pessoas dessas classes sociais a conta não fechava.
Outro dado que justifica o otimismo em relação a 2011 é que, somente em 2010, quase 19 milhões de pessoas deixaram as classes D e E, e 12 milhões alcançaram as classes A e B. No intervalo entre 2005 e 2009, 26 milhões de brasileiros deixaram as classes D e E e alcançaram a classe C, e outros 4 milhões conseguiram atingir as classes A e B. Observando ainda os último cinco anos, em termos percentuais, as classes A, B e C que, em 2005, correspondiam a 49% da população, no ano passado, passaram a representar 74% dos brasileiros.
Sul é o que mais gasta com supermercados
Quanto a aplicação da renda extra, em todo o País e, em especial na região Sul, os supermercados ficaram com a maior fatia dos gastos. No País, o total de gastos mensais, entre 1,5 mil entrevistados de 70 cidades, somou R$ 1,231, dos quais os supermercados respondem por R$ 375. O Sul, por sua vez, gastou R$ 1.261, ou seja, exatos R$ 30 a mais que a média nacional. Porém, o supermercado comprometeu R$ 458 da renda, R$ 183 a mais que a média. Disparadamente foi a região que mais gastou nesse item. E talvez isso explique o leve recuo no número de pessoas fazendo poupança na região. “Os dados obtidos pela pesquisa servirão para uma série de análises mais aprofundadas sobre cada item e região analisada”, justificou o vice-presidente da Cetelem, Miltonleise Carreiro Filho.
Crédito
Acesso ao crédito e a maneira de avaliar as operações de financiamento foi o item que mais deixou evidente uma relação direta entre nível de informação e bom uso dessas opções. Para compras financiadas, apenas 26% dos brasileiros afirmaram comparar diferentes taxas de juros na hora de comprar. O Sul desponta nesse item, com 35% das pessoas realizando esse procedimento. Já no Norte e Centro Oeste, apenas 14% comparam. Se avaliar por classe social, 35% das pessoas da classe A e B costumam observar as diferenças entre as taxas de juros. O percentual cai para 27% na classe C e 17% nas D e E. “Cultura e acesso a informação, sem dúvida, impactam nesses números”, reconheceu Etchegoyen.
Nesse aspecto, o acesso à internet, é apontado como forma de aprimorar o uso consciente do crédito. “Pela análise, 41% dos consumidores têm acesso à internet contra 59% que não tem. Esse dado não só demonstra o potencial comercial disso, mas que ainda há uma lacuna bem grande para mais pessoas utilizarem esse meio para avaliarem produtos e condições de pagamento”, recomendou Carreiro Filho.