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Foto: Arquivo/O Estado

Ajustes salariais não foram suficientes para recuperar perdas acumuladas nos últimos anos.

O rendimento médio real do trabalhador brasileiro apresentou em 2005 o primeiro crescimento (4,6%) ante ano anterior apurado pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD) desde 1996. O aumento não foi suficiente, no entanto, para recuperar as perdas acumuladas nos últimos anos. De 1996 até o ano passado a renda caiu 15,1%.

Segundo os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio apurado em 2005 foi de R$ 805, ou 4,6% a mais do que os R$ 770 apurados em 2004. Em 2003, o rendimento também havia ficado em R$ 770.

Apesar do aumento apurado no ano passado, o rendimento médio real registrado em 2005 ainda ficou distante do ano de 1996 (R$ 948), quando foi apurado o último crescimento. Em 1996, a renda alcançou seu ponto máximo desde o início da década de 90. Segundo a série histórica do IBGE, iniciada em 1981, o menor rendimento médio real foi apurado em 1984 (R$ 627), enquanto o maior foi apurado em 1986 (R$ 1.008).

Concentração

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Ao mesmo tempo, a concentração de renda diminuiu no Brasil em 2005 e atingiu o menor nível em patamar histórico. O índice de Gini (que mede a concentração de renda), no que diz respeito à distribuição dos rendimentos do trabalho, apresentou o menor resultado apurado pelo IBGE desde 1981, quando começou a série histórica.

Segundo a pesquisa, o Gini foi de 0,544 em 2005. Quanto mais próximo o índice está de zero, menor o nível de desigualdade (ou concentração de renda). Quanto mais próximo de um, maior a desigualdade. Em 2004, o índice foi de 0,547.

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Em 2005, segundo explicam os técnicos do IBGE no documento de divulgação, o grau de concentração de renda chegou ao seu menor patamar desde 1981 por uma conjunção de fatores. A inflação mais baixa, aliada ao reajuste do salário mínimo, fez com que os ganhos de renda mais expressivos ocorressem na ?metade inferior? da distribuição dos rendimentos, ou seja, na camada dos que ganham menos.

O número de empregados com carteira assinada cresceu 5,3%, enquanto o dos empregados sem registro subiu apenas 0,1%. Entre os trabalhadores domésticos, 4,5% conseguiram registro e 2,3% permaneceram na informalidade.

A pesquisa destaca, ainda, que no setor agrícola o número de trabalhadores que plantam para o próprio consumo aumentou 15% em relação a 2004. O número de trabalhadores que construíram para o próprio uso também teve alta expressiva, de 23%. Já o número de funcionários públicos federais cresceu 3,9% na mesma comparação.

Quase 10% dos jovens de 5 a 17 anos estavam fora da escola

Brasília (ABr) – Em 2005, 8,8% das crianças e adolescentes de 5 a 17 anos não freqüentavam escola. Este é outro resultado apresentado pela Pnad, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Freqüentavam escola pública 25,9% dos estudantes do ensino superior, 85,6% do médio, 89,2% do fundamental e 76,3% do pré-escolar.

As maiores diferenças na proporção de estudantes em escola da rede pública ocorreram no ensino superior. Enquanto na região sudeste 18,4% dos estudantes do ensino superior freqüentavam escola pública, na norte eram 45,1% e na nordeste, 40,5%. Na região sul este indicador situou-se em 23,9% e na centro-oeste, em 27,9%.

A pesquisa do IBGE mostra ainda que vem diminuindo o analfabetismo no País, mas ainda atingia 10,2% das pessoas de 10 anos ou mais de idade e 11,1% das de 15 anos ou mais.

No contingente de 10 anos ou mais de idade, as diferenças regionais permaneceram mais acentuadas: a taxa de analfabetismo variou de 5,4% na região sul a 20,0% na nordeste. Em 2005, no mesmo grupo etário, a proporção dos que tinham pelo menos 11 anos de estudo foi de 27,2%, contra 26,0% em 2004.

A média de anos de estudo do total da população de 10 anos ou mais de idade foi de 6,7 anos – menor que a da parcela das pessoas ocupadas, de 7,4 anos. Para a população com 25 anos ou mais de idade, o número médio de anos de estudo foi de 6,6 anos, enquanto para os ocupados nesse grupo etário, ficou em 7,2 anos.

A região nordeste apresenta ainda o menor nível de instrução, com média de 5,4 anos de estudo e o sudeste o mais elevado com 7,4 anos.

Trabalho infantil voltou a crescer

Rio (ABr) – A Pnad constatou também que depois de cinco anos em queda, voltou a crescer em 2005 o número de crianças com idade entre 5 e 14 anos que trabalham. A alta em relação a 2004 foi de 10,3% e a maioria dos pequenos trabalhadores estava no setor agrícola, especialmente na região sul do país.

Para a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Márcia Quintslr, o avanço não é significativo porque está relacionado à agricultura no sul do País, onde os produtores enfrentaram dificuldades financeiras no ano passado por causa da seca.

?Nossa avaliação é que os agricultores perderam suas culturas e tiveram prejuízos com a falta de chuva. Sem opção, os filhos passaram a ajudar nas hortas para o consumo da própria família?, explicou a economista.

Na faixa dos cinco a 17 anos de idade, o contingente dos que trabalhavam passou de 11,8% em 2004 para 12,2% em 2005. Novamente, a economista explicou que esses dados não alteram a tendência de declínio que vem sendo registrada de 1995 a 2005.

Celular é artigo de grande consumo

Rio (ABr) – Quase 60 milhões de pessoas, ou um terço da população, tinham telefone celular para seu próprio uso em 2005. No ano passado, o celular também superou o número de linhas fixas de telefone das residências do País.

De acordo com a Pnad 2005, divulgada ontem IBGE, o percentual de moradias com celular passou de 47,8% em 2004 para 59,3% em 2005, enquanto o número de linhas fixas caiu de 48,9% para 48,1%.

A pesquisa mostra que a posse do celular foi maior entre as pessoas com mais renda e escolaridade, concentrada na região sudeste. Os homens foram os maiores usuários do aparelho. O estudo também revelou que de 2001 para 2005 a proporção de residências que contavam somente com celular subiu de 7,8% para 23,6%.

A economista do IBGE, Márcia Quintslr, atribuiu a preferência pelo telefone celular ao alto custo da telefonia fixa. ?Com a facilidade da aquisição do plano pré-pago, ou seja, o telefone de cartão, muita gente consegue controlar os gastos melhor do que com uma linha fixa em casa?, explicou.

Microcomputador

A pesquisa revela, ainda, que o microcomputador foi o eletro-eletrônico com a maior procura em um ano pela população. De 2004 para 2005, o número de residências que tinham o aparelho aumentou 2,5%. Com isso, 18,6% das residências no País já têm microcomputador, dos quais 13,7% ligados à internet.

Em 2005, 21% da população com 10 anos de idade ou mais haviam acessado a rede mundial de comunicação. Essa foi a primeira vez que a Pnad investigou quantas pessoas têm acesso à internet em casa ou em qualquer outro lugar.

Os pesquisadores constataram que, quanto maior o grau de instrução maior era o número de internautas. O percentual chegou a 76,2% para as pessoas com 15 anos ou mais de estudo e ficou em 2,5% para os que tinham menos de quatro anos de estudo.

A diferença também foi grande entre as faixas de rendimento. Para os que ganhavam acima de cinco salários mínimos o percentual foi de 69,5%, enquanto na faixa de menos de um salário mínimo per capita a proporção foi de 3,3%.

Previdência

O número de contribuintes da Previdência Social cresceu 4,9% em 2005 em relação ao ano anterior. Além disso, a proporção de contribuintes para a Previdência, no total da população ocupada, passou de 46,3% em 2004 para 47,2% em 2005, segundo os dados da Pnad.

A pesquisa mostra também que o número de pessoas sindicalizadas subiu 5,1% de 2004 para 2005 e, desse modo, o nível de sindicalização (porcentual de sindicalizados no total da população ocupada) passou de 18% para 18,4% no período.

Ganhos influenciam desconcentração

Rio (ABr) – A coordenadora de Trabalho e Rendimentos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Márcia Quintslr, disse que o aumento dos rendimentos do trabalhador detectado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2005, indica recuperação do poder de compra e também vai refletir na desconcentração de renda.

?A gente observa que a alta está relacionada ao rendimento médio real recebido, mas que também há uma identificação com o grau de desconcentração de renda, pois os ganhos foram maiores para os trabalhadores que ganhavam salários menores.?

O economista Jardel Leal, do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), também acredita que os trabalhadores das classes mais baixas foram os mais beneficiados com a política salarial, especialmente no ano passado.

?Em 2005, com o esforço das centrais sindicais, todas as categorias conseguiram as melhores negociações com os patrões. Além disso, os programas sociais implementados pelo governo ajudaram na sustentação da renda das pessoas mais pobres?, disse.

Para Leal, o aumento dos rendimentos associado à criação de mais postos de trabalho provoca um efeito sobre a economia de forma generalizada, e a resposta imediata é o aumento do consumo. ?Com salários melhores, o trabalhador recupera seu poder de compra e volta a consumir, e a tendência é que todo esse conjunto provoque uma mudança no perfil da distribuição de renda no país?, enfatizou.

 A Pnad envolveu cerca de 2 mil técnicos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que visitaram 142.471 mil domicílios em todo o País e entrevistaram 408.148 pessoas. O estudo traz também dados sobre migração, educação, trabalho, família, domicílio e antecipa algumas informações da pesquisa suplementar sobre acesso à internet e posse de telefone celular para uso pessoal.