O ajuste fiscal, o combate à inflação e as altas taxas de juros podem ter contribuído para segurar as contas do governo e estabilizar a economia no ano passado, mas tiveram um efeito de curto prazo doloroso para o trabalhador. De acordo com dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios) divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a retração sofrida pela economia brasileira no primeiro ano do governo Lula, de 0,2%, levou à queda da renda e ao aumento do desemprego.
De 2002 para 2003, a remuneração média real das pessoas com rendimento de trabalho caiu 7,4%. Esta é a maior redução desde 1997, quando começou o período de declínio nas remunerações. Os ganhos passaram de R$ 747 em 2002 para R$ 692 em 2003, descontada a inflação. De 1996 a 2003, a perda acumulada foi de 18,8%.
“Os ajustes na política econômica, iniciados ao final de 2002, definindo a elevação das taxas de juros, contribuíram para a desaceleração na economia em 2003, que foi acompanhada pelo crescimento da inflação. Em decorrência intensificou-se a perda real nos rendimentos, mantendo a tendência declinante iniciada em 1997”, afirma o IBGE.
A queda foi generalizada, mas atingiu principalmente os que contavam com maiores salários. Entre os 50% com os maiores rendimentos, as perdas chegaram a 8,1%. Entre os 50% dos ocupados com as menores remunerações a queda foi de 4,2%.
A desigualdade entre os salários permanece alta. Em 2003, 27,8% das pessoas ocupadas ganhavam até um salário mínimo e apenas 1,3% recebia mais de 20 salários mínimos.
Entre os sexos, também persistem diferenças marcantes nas faixas de rendimentos. Em 2003, o rendimento médio das mulheres representava 64% do que os homens recebiam na categoria dos conta-próprias e 90% na dos empregados.
A população ocupada aumentou 1,4% de 2002 para 2003, o que representa menos da metade do crescimento de 2001 para 2002, de 3,6%. Além da queda no número de pessoas absorvidas pelo mercado de trabalho, o percentual ficou abaixo do crescimento da população em idade ativa, de 1,9%.
Desemprego
A taxa de desemprego passou de 9,2% em 2002 para 9,7% em 2003. No ano passado apenas 55,4% das pessoas em idade ativa tinham uma ocupação. Em 1992, este percentual era de 57,5%. Na prática, o número de desempregados passou de 7,878 milhões de pessoas em 2002 para 8,537 milhões em 2003.
As mulheres encontram mais dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. A taxa de desemprego entre as mulheres foi de 12,3%, entre os homens este percentual cai para 7,8%.
O número de mulheres supera o dos homens nos contingentes dos trabalhadores não-remunerados e na produção para o próprio consumo e, especialmente, no dos trabalhadores domésticos. Entre os empregados, a parcela feminina é maior na categoria dos militares e funcionários públicos estatutários.
Mercado de trabalho
De 2002 para 2003 houve redução de pessoal em três grandes atividades: construção; alojamento e alimentação e serviços coletivos, sociais e pessoais. Na construção a queda foi generalizada e atingiu tanto as grandes construtoras como as firmas de pequenas obras e reparos. A queda foi de 7,2%.
O setor de serviços registrou o maior crescimento na absorção de mão-de-obra, de 4,7%. Na atividade agrícola houve aumento de 1,7%.
Metodologia
A Pnad abrange todo o País, com exceção da área rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá. O período de referência da pesquisa para 365 dias foi de 28 de setembro de 2002 a 27 de setembro de 2003.
Menos freezer e mais computador
O apagão de 2001 ficou na memória dos consumidores brasileiros, de acordo com os dados da Pnad de 2003, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). Mesmo sem novos períodos de racionamento no consumo de energia nos anos seguintes, o consumidor começou a cortar eletrodomésticos considerados supérfluos da lista de compras.
É o caso dos freezers que registraram retração de 1,1% de 2002 para 2003. Na pesquisa anterior, o item já havia demonstrado um crescimento considerado insignificante pelo IBGE de 0,7%. No ano passado, apenas 17,7% das residências no País dispunham de freezers. Em 2001, o percentual era de 18,8%.
De acordo com a pesquisa, as pessoas estão dando preferência às geladeiras de duas portas, que reservam espaço para alimentos congelados.
Se os freezers deixaram de ser considerados essenciais pelas donas-de-casa, a máquina de lavar roupa permanece na lista de compras. De 1993 a 2003, o percentual de residências com máquina de lavar passou de 24,3% para 34,4%. De 2002 para 2003 houve um crescimento de 4,8%.
Informática
O crescimento no número de residências com microcomputador foi o maior comparado ao dos demais bens duráveis. Em 2001, quando o item passou a ser pesquisado, 12,6% das residências no País dispunham de microcomputador. Hoje, o percentual subiu para 15,3%.
Sai o telefone fixo e entra em cena o celular
Os serviços de telecomunicações no País continuam em expansão. Com a oferta cada vez maior de planos e perfis diferenciados para clientes na telefonia celular, muitas pessoas estão substituindo a linha fixa pela móvel. A tendência é apontada na Pnad, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) referente ao ano de 2003.
Enquanto o número de domicílios com linha fixa registrou uma leve queda de 0,7% de 2002 para 2003, o número de residências atendidas unicamente por linha móvel cresceu 31,3%. O resultado confirma a Pnad de 2002, quando esse percentual foi de 15,4%.
De acordo com o IBGE, esses resultados podem ser um indicativo do uso desse tipo de linha, importante para a comunicação fora da moradia, para suprir a falta de linha fixa.
Além disso, nos pré-pagos é possível utilizar o telefone apenas para receber chamadas. Já na telefonia fixa, o cliente é obrigado a pagar a assinatura básica mensal mesmo que não utilize os serviços.
Em 2003, 11,2% dos domicílios dispunham apenas de telefones celulares. Em 2002, esse percentual era de 7,8%.
O número de residências com telefone (fixo ou móvel) cresceu 3,9%, inferior ao resultado da pesquisa anterior, quando houve um aumento de 7%. Existem telefones em 62% dos domicílios do País.
A expansão da telefonia celular foi o principal fator a contribuir para o crescimento. O número de residências com celulares aumentou em 15,1%. De acordo com a pesquisa, o número de domicílios com linha móvel e fixa no País é de 27,4%, superior ao dos que dispõem apenas de linha fixa, de 23,4%.