A Renault do Brasil comunicou ontem, no final da tarde, a demissão de 250 dos 1.500 funcionários da área administrativa da fábrica de São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. A medida revoltou os trabalhadores, que na última semana foram surpreendidos com o anúncio de um PDV (Programa de Demissão Voluntária), cujo objetivo é eliminar 140 postos de trabalho dos 830 trabalhadores da planta de veículos leves. Segundo a empresa, a redução de pessoal foi adotada para adequar a produção à demanda do mercado. A Renault tem 35 mil veículos estocados, sendo 16 mil no pátio da fábrica.

Em assembléia na sexta-feira passada, os funcionários da montadora rejeitaram o PDV. “O sindicato não homologa PDV”, enfatiza o sindicalista Paulo Pissinini. “Nem sentamos com a empresa para discutir a situação. Com o PDV, o trabalhador perde o direito ao seguro-desemprego”, argumenta. Aos trabalhadores, a montadora anunciou que havia 400 funcionários ociosos. Como abriu o PDV só para 140, os sindicalistas acreditam que parte deles serão remanejados para a fábrica de motores, que também funciona no mesmo complexo industrial em São José dos Pinhais e terá aumento de demanda nesse ano -em função do início das exportações para a Renault do México.

O prazo de adesão ao programa de desligamento começou ontem e se estende até o dia 16. Até às 18h, segundo informações do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, nenhum funcionário havia aderido ao programa. A montadora informou ontem que só vai divulgar o balanço do PDV após o prazo final de adesão. Disse ainda que espera que espera atingir a meta de 140 trabalhadores. “É ilusão nossa pensar que ela não vai demitir se não preencher esse número”, diz Pissinini.

Para quem se inscrever no PDV, a Renault oferece seis meses de plano de saúde e salários adicionais conforme o tempo de serviço: mais um salário nominal para quem está há 12 meses na empresa; 2 salários para empregados há 24 meses; e 2,5 salários para funcionários com 36 meses de casa.

Cadeia afetada

O término do segundo turno de trabalho da Renault, previsto para meados de setembro, já causa impacto negativo na cadeia de fornecedores. Instalada ao lado da planta da montadora, a montadora de pneus Vallourec do Brasil comunicou ontem ao Sindicato dos Metalúrgicos a rescisão de sete dos noventa trabalhadores. Núncio Mannala, diretor do Sindicato, calcula que os cortes da Renault representem 900 demissões na cadeia automotiva. “Vai começar a pipocar em cascata: são 60 empresas, se cada uma demitir 10 a 12 funcionários…”, raciocina. De acordo com os metalúrgicos, a redução não atinge apenas o chão de fábrica. “Se diminui o número de pessoas na linha de montagem, diminui o número de chefias”, observa Mannala.

Ontem, os sindicalistas tiveram uma reunião com o prefeito de São José dos Pinhais, Luiz Carlos Setim, para tratar das demissões na Renault. “O prefeito está bastante preocupado com a situação social que vai acontecer na cidade”, relata Mannala. “Ele (Setim) ligou para a Casa Civil pedindo ao governador que marque uma reunião com a prefeitura, Renault e sindicato para discutirmos a situação. Os secretários da Indústria e Comércio, Trabalho e Casa Civil estão bastante sensibilizados, porém aguardamos a resposta do governador”, diz.

“O governo é sócio da empresa, assinou um protocolo que até hoje não temos cópia, e por isso gostaríamos que se pronunciasse a respeito”, alega Mannala. “O sindicato não quer discutir PDV, mas geração e manutenção de empregos. Está nas mãos do governo”, reforça. A assessoria de imprensa do Palácio Iguaçu informou que não há nenhuma reunião marcada.

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