Caso a Grécia implementasse todas as medidas combinadas com seus credores, o país poderia acabar com uma economia mais flexível que a da Alemanha. Muitas das reformas exigidas para Atenas são inspiradas nas medidas no mercado de trabalho, no sistema de bem-estar social e no orçamento realizadas pela Alemanha em 2003 e 2004, quando o país tinha alto desemprego e crescimento fraco.

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Outras, como o fim de restrições a compras no domingo e desregulamentação de farmácias, vão além e gerariam uma disputa política e legal, caso fossem tentadas na Alemanha.

O ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schaeuble, rejeitou a acusação de que algumas das medidas exigidas para a Grécia incluem áreas em que não se toca nos próprios países credores. Segundo ele, as dificuldades econômicas e financeiras da Grécia exigem uma ação mais agressiva.

“Você não pode, com todo respeito, simplesmente comparar a situação na Grécia com a de outros países. O tipo de decisões que a Grécia precisa tomar, com todo o respeito, são difíceis”, afirmou o ministro alemão em Bruxelas. “A comparação não é válida, nem mesmo para debates polêmicos.”

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Politicamente, o fato de que Berlim deixou de adotar algumas das medidas que exige para outros pode impulsionar a narrativa populista de que a Europa, liderada pela Alemanha, está punindo a Grécia.

A Alemanha tem a taxa de desemprego mais baixa na União Europeia, em 5%, enquanto na Grécia ela está em quase 26%, a mais alta do bloco. Isso impulsiona um superávit orçamentário considerável, com exportações fortes e um sistema de bem-estar bem financiado, ainda que o envelhecimento da população gere dúvidas sobre o futuro.

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Os economistas também têm criticado a Alemanha por suas leis ainda bastante protetoras em relação ao emprego, por suas regras antiquadas que inibem a competição em setores como o de seguros e serviços legais, e por um recuo recente em mudanças anteriores.

“A atitude na Alemanha e nos círculos políticos é de que nós não temos um problema, então podemos nos dar ao luxo de manter distorções do livre mercado”, afirmou Christian Odendahl, economista-chefe do Centro para Reforma Europeia, um centro de estudos apartidário em Londres.

No acordo fechado na segunda-feira, a Grécia pode receber até 86 bilhões de euros (US$ 96 bilhões) em novos empréstimos, contanto que o país aprove várias leis até quarta-feira. Os credores querem reformas no sistema de pensões, mais impostos e promessas de cortes de gastos nesta semana, seguidas por mudanças judiciais. Muitas vão mesmo além do que uma Alemanha em dificuldades poderia aguentar, há uma década.

Os credores querem que a Grécia acabe até 2022 com as exceções para aposentadoria antecipada, impondo idade de 67 anos para todos, e reforme seu complicado sistema de pensões. Mas quando a Alemanha elevou sua própria idade de aposentadoria em 2007 para 67 anos, optou por um ritmo mais gradual para isso, até 2029. No ano passado, o país reduziu a idade para aposentadoria para alguns trabalhadores e elevou as pensões para outros, o que para muitas instituições foi considerado uma irresponsabilidade fiscal.

Após os italianos, os gregos gastam mais com pensões que qualquer outro país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A Alemanha destina 10,6% de seu Produto Interno Bruto (PIB) para pensões, enquanto a Grécia destina 14,5% – a média da OCDE é de 7,9%.

No ano passado, os empregados alemães trabalharam menos horas que todos seus pares entre os 34 países da OCDE. A produtividade como medida pelo PIB por hora trabalhada, porém, ficou 70% acima na Alemanha que na Grécia. Os credores querem que a Grécia liberalize o comércio aos domingos, o que poderia gerar mais 2,5 bilhões de euros (US$ 2,8 bilhões) em gastos. Na Alemanha, porém, a Constituição prevê os domingos e feriados públicos como “dias de descanso do trabalho e melhoria espiritual”, ainda que haja brechas. Fonte: Dow Jones Newswires.