A referência que o governo brasileiro fez a Benito Mussolini durante a reunião da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para se referir aos sindicatos não consta da ata da reunião, preparada pela entidade.
Na terça-feira, dia 5, num encontro com vaias, aplausos, acusações e duras ameaças, o Brasil foi avaliado pelo Comitê de Normas da OIT, depois que a reforma trabalhista do País foi alvo de uma denúncia. Nesta quinta-feira, 7, uma conclusão deve ser anunciada pela OIT se a entidade considera que o Brasil viola ou não as convenções trabalhistas.
A participação do governo brasileiro gerou uma polêmica entre os trabalhadores. Num discurso duro, o ministro do Trabalho, Helton Yomura, atacou os peritos da OIT, alertou sobre o risco de a entidade se tornar “irrelevante” e mandou um recado aos sindicatos brasileiros: “vão ter de trabalhar muito mais”.
Mas foi sua referência explícita ao regime fascista italiano que despertou um mal-estar entre os sindicatos. “Não são os trabalhadores que estão sendo prejudicados pela modernização, mas alguns sindicatos acostumados a viver à sombra do Estado e sem nenhum compromisso com os trabalhadores que dizem representar”, insistiu o ministro.
Para ele, “pôs-se fim, com a reforma trabalhista, a uma provisão que foi criada nos anos 1940 por um governo que queria os sindicatos sob seu controle e que se inspirava, para tanto, na experiência da Itália de Mussolini”. “Para alguns, isso parece ser uma situação defensável ainda hoje”, disse o ministro.
Durante a reunião, os sindicatos protestaram. “Isso é um insulto, mencionar Mussolini. Não podemos aceitar e pedimos que o governo brasileiro se retrate”, disse Fernando Gambera, sindicalista uruguaio. O ministro brasileiro, em suas conclusões finais, não tocou no assunto e não se retratou.
Na quarta-feira, 6, porém, ao publicar um rascunho da ata do encontro, a referência explícita a Mussolini não constava. “A reforma acaba com a provisão que foi criada nos anos 1940 por um governo que queria manter os sindicatos sob controle”, se limita a dizer a ata, quando se refere ao discurso oficial do Brasil.
O documento da OIT tampouco faz referência ao protesto do sindicalista uruguaio e nem seu pedido para que o ministro se retratasse.
Também em protesto ao discurso do governo, as centrais sindicais presentes em Genebra decidiram “de forma unânime e unitária” que não participariam de um encontro programado com o ministro do Trabalho e marcado para ocorrer nesta quarta-feira.
Procurado, o Ministério do Trabalho afirma que não fez qualquer tipo de solicitação sobre a ata e indicou que o documento apenas traz extratos do discurso.
Já a OIT não respondeu aos pedidos da reportagem para explicar o motivo da ausência do trecho sobre Mussolini em sua ata da reunião.