Na segunda-feira passada, Paulo Skaf foi reeleito presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) pela quarta vez consecutiva. Caso cumpra seu mandato até o fim, o empresário de 62 anos de idade terá permanecido frente à federação das indústrias paulistas por 17 anos. É uma situação inédita, para a qual o estatuto da entidade foi alterado pelo menos duas vezes.
Skaf foi alçado novamente à presidência da instituição, diz a assessoria de imprensa da Fiesp, porque “sua candidatura foi uma reivindicação feita por escrito por 100 dos sindicatos com direito a voto na entidade e pelos diretores regionais do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).” Segundo a Fiesp, ele teria sido praticamente aclamado ao cargo, por uma quase unanimidade.
Conforme um industrial que faz parte da entidade, porém, há uma “receita de bolo” para eleger um candidato numa associação de classe. Em primeiro lugar, dizer que o time, e não apenas ele, fará a diferença. Depois, colocar o maior número de pessoas em seu grupo. A chapa de Skaf tinha 129 membros. Também ajuda criar cargos e conselhos.
Para José Ricardo Roriz, vice-presidente da Fiesp, a participação de muitas pessoas no grupo eleito significa uma grande representatividade em decisões para as quais convergem vários pontos de vista. “A alternância de poder também vem sendo praticada há muito tempo, já que a diretoria muda bastante e temos um comitê de jovens empresários, com 1.200 empreendedores”, diz ele, que vem sendo apontado como o sucessor interno de Skaf.
Interesses. Para críticos, porém, essa alternância teria de acontecer de fato no comando da instituição. “Se exigimos do setor público o fiel cumprimento de regras e leis, o exemplo tem de vir de casa: fazer jogadas para se perpetuar no poder é péssimo para a sociedade”, diz Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Kaduna Consultoria e ex-diretor de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp.
Giannetti já havia questionado a reeleição de Skaf em 2014, citando vários riscos dessa permanência sem tempo determinado no cargo. Entre eles, a criação de um sistema oligárquico que impede o surgimento de novas lideranças.
Ele não é o único a alertar para o problema. “Nesse caso, me preocupa que os empresários brasileiros, em geral por conta de vícios institucionais que mancham a escolha de dirigentes, estejam perdendo o protagonismo e a iniciativa, num momento de crise e definição do que se quer do País”, afirma o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que pertenceu ao conselho de economia da Fiesp e que diz não personificar a crítica.
Em geral, a preocupação com a alternância diz respeito ao uso de entidades de categorias por interesses políticos. Candidato pelo PMDB ao governo de São Paulo em 2014, Skaf teve 4,6 milhões de votos e não esconde suas pretensões eleitorais. “Não é só a Fiesp que padece desse mal, mas usar instituições para alcançar cargos públicos acaba apequenando as que tiveram histórias fantásticas e fizeram muito pelo Brasil”, diz Giannetti.
Críticos citam como exemplo a campanha “Não vou pagar o pato”, defendida pela entidade desde setembro de 2015, com a assinatura explícita de Skaf. Para os especialistas, outras pautas que seriam mais benéficas à indústria de maneira geral e também ao País, como a própria reforma da Previdência, deveriam ser adotadas pela instituição.
Na Fiesp, porém, o pato, um dos símbolos das manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff, não é visto com estranheza. “É marcante, na gestão do Paulo, a aproximação da Fiesp com a sociedade”, diz Roriz. “O pato, com sua linguagem simples e objetiva, nos conectou às pessoas porque ninguém aguenta mais impostos.”
Skaf recusou o pedido de entrevista. Mas informou, por meio de sua assessoria, que “as campanhas da Fiesp, sempre resultado de decisões unânimes de sua diretoria e conselho de representantes formado por todos os sindicatos filiados, têm a legitimidade para defender a indústria, o emprego e o bem da sociedade. Graças a algumas delas, mobilizamos a opinião pública e evitamos decisões relativas ao aumento de impostos, contrárias ao interesse geral.”
As pretensões políticas de Skaf também não são encaradas como um problema internamente. De acordo com Roriz, Skaf, como outros líderes oriundos de associações sindicais, empresariais ou não, faz bem em ter pretensões políticas e há uma separação entre o dirigente sindical e o candidato. “Nosso maior problema é cada empresário ter ido tratar de sua companhia e deixado a política ser cuidada por quem não tem formação”, afirma.
Nem mesmo o fato de Skaf ter sido citado nas investigações da Lava Jato parece incomodar os afiliados. Skaf se reportou à diretoria da entidade, quando veio a público a delação de Marcelo Odebrecht que havia repassado R$ 2,5 milhões ao presidente da Fiesp. Em sua defesa, disse que não havia pedido ou autorizado contribuição de campanha, que não as regularmente declaradas. “O Paulo esclareceu que não usou esses recursos nem teve vínculo (com o apresentado na delação)”, diz Roriz. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.