Em meio a fortes críticas à política econômica feitas por praticamente todos os segmentos da sociedade, inclusive partidos da base aliada e dirigentes do PT, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defendeu ontem as medidas adotadas, descartou mudanças de rumo e disse que a sociedade brasileira começará a sentir os efeitos da retomada da economia ainda neste semestre.
Em audiência pública na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, que durou mais de cinco horas, Meirelles procurou aproximar-se dos críticos admitindo que o Copom (Comitê de Política Monetária, do BC) chegou a discutir a mudança da meta de inflação de 5,5% para este ano na reunião da semana passada. Para os críticos, a elevação da meta permitiria que os juros fossem reduzidos mais rapidamente.
Meirelles, entretanto, disse que o Copom, conforme está escrito na ata da reunião divulgada ontem, entendeu que não há necessidade de alterar a meta porque as expectativas do mercado já apontam para seu cumprimento e não houve choques na economia que justificassem uma alteração.
Apesar disso, Meirelles disse que ainda há expectativa de novas reduções de juros, mas que o BC precisa ser “responsável” em suas decisões mesmo que isso às vezes seja confundido com “insensibilidade”.
Ao final, além de críticas, Meirelles recebeu elogios de senadores governistas e da oposição e se sentiu à vontade para cobrar a aprovação de projetos de interesse do governo na Casa, como a Lei de Falências.
Meirelles defendeu a estabilidade dos preços como pré-condição para o crescimento sustentável. Sem isso, não há investimento. Não há país que tenha crescido de maneira sustentada com altas taxas de inflação. Disse que o Brasil já iniciou o processo de retomada do crescimento, acentuando que “o pior ficou para trás”.
Sobre as críticas à falta de investimentos na solução de problemas sociais, disse que o governo é extremamente sensível a ela (a questão social). “Não devemos confundir responsabilidade com insensibilidade.”
Sobre os juros, repetiu o presidente Lula, acentuando que as taxas já caíram 10 pontos de junho a dezembro de 2003 e estão hoje nos níveis mais baixos da história recente. E ainda há a expectativa de queda dos juros.
Sobre a pretendida autonomia do Banco Central, frisou que a data para o envio do projeto ao Congresso é uma decisão do presidente Lula. Não há dúvidas de que BCs autônomos têm uma trajetória de sucesso. O BC brasileiro já tem hoje autonomia na prática. O projeto só formaliza essa autonomia. Caberá também ao Congresso tomar a decisão.
