Recuperação da economia depende de acordo entre poderes, diz Giambiagi

Crítico da política econômica dos governos petistas, o economista Fábio Giambiagi tem uma simpatia especial pelo atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Um luxo em matéria de competência”, disse, em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Apesar do apreço por Levy, Giambiagi acredita que a chave para a recuperação da economia depende menos do ministro e mais de um acerto político entre os poderes Executivo e Legislativo.

Em respostas bem-humoradas, o economista contou como tem encarado a atual conjuntura, negou que o Brasil passe por um processo de dominância fiscal e apostou em uma retomada do crescimento em 2017.

O Brasil caminha para ter recessão em 2015 e em 2016. Quando a economia voltará a crescer na sua avaliação? E por quê?

Minha opinião é que a partir de 2017 haveria condições de a economia retomar o crescimento, uma vez que o ajuste do mercado de trabalho e do setor externo estiverem maduros, melhorando os números da inflação e do setor externo. Se isso será suficiente ou não para alavancar a economia, porém, vai depender da política. Enquanto continuarmos neste ambiente de convulsão em que Executivo e Congresso atuam como uma espécie de luta de extermínio entre Assad e o Estado Islâmico sem sangue, é evidente que qualquer empresário com pelo menos dois neurônios vai pensar 50 vezes antes de lançar um investimento de maior porte.

O senhor acredita que devemos ter uma melhora do ambiente econômico já em 2016, uma vez que as empresas parecem estar absorvendo a crise em 2015?

Se “em 2016” significa na comparação anual de 2016 contra 2015, a resposta é um sonoro “não”. Porém, se entendermos a expressão como estando associada ao que poderá ocorrer ao longo do ano, a resposta deve ser “talvez”: em algum momento de 2016 as coisas podem começar a melhorar, se houver sinais de paz vindos da política.

Na sua avaliação, o Brasil passa por um processo de dominância fiscal?

Não tenho essa leitura. Entendo que o Banco Central opera sim com mais restrições do que há alguns anos, mas não vislumbro um processo como o que vivemos nos anos 80. O que acho que acontecerá é que, sim, teremos inflação maior do que a meta em 2016 e a dívida pública continuará aumentando.

O governo deveria adotar um choque de juros para atrair capital externo ou o melhor caminho é manter os juros onde estão para não aprofundar a recessão?

Nas atuais circunstâncias, depois do Banco Central ter tido tantas idas e vindas no seu discurso, acho que o melhor é manter os juros no nível atual e reduzir em 2016 quando e se o cumprimento da meta de 4,5 % em 2017 estiver no horizonte. Tenho a impressão de que teremos uma Selic estável por um longo período.

Em seu último livro, “Capitalismo: Modo de Usar”, o senhor diz que a Venezuela caminha para uma “economia de escassez”, como uma forma de alertar para a situação do Brasil. Também estamos caminhando nessa direção, embora em um ritmo mais lento?

O Tom Jobim dizia que “o Brasil não é para principiantes”. E somos o país de Macunaíma. Tudo é complexo aqui. Temos um ministro da Fazenda, que é um técnico e é um luxo em matéria de competência, tratado como inimigo pelo partido da presidente da República. O País correria riscos se a turma bolivariana que vive falando maravilhas da Venezuela desse as cartas, mas tudo indica que eles estão vivendo em fase crepuscular.

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