Receita falha no registro de exportação de soja

Brasília

  – A falha que “escondeu” pelo menos US$ 600 milhões em exportações de soja ocorreu na Receita Federal. O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Unafisco), Paulo Gil Introini, afirmou que existem 2.500 despachos de exportação do Porto de Paranaguá que não foram ainda registrados no Sistema Integrado de Comércio Exterior (Siscomex).

“Houve um atraso de uma semana nos registros, mas a maior parte do problema já foi resolvida”, afirmou um técnico da área econômica do governo. “O atraso é referente a uma semana apenas.” Ele explicou que as exportações de soja sempre são registradas após o embarque, por isso é normal haver algum atraso. Tanto esse técnico quanto Paulo Gil afirmaram que o atraso nos registros de exportação não ocorreu por causa da greve dos fiscais.

Segundo o presidente da Unafisco, o atraso estaria ocorrendo por absoluta falta de pessoal para trabalhar na aduana. Ele informou que apenas três fiscais trabalham na área de registro de exportação no porto de Paranaguá, principal terminal de embarque de soja do País. “Os fiscais não têm culpa. A culpa é do governo e da alta cúpula da Receita Federal, que têm deixado fragilizadas as aduanas com pouco pessoal”, afirmou.

Ele informou que existem apenas 2.500 funcionários da Receita trabalhando nas aduanas em todo o País. “Na França, existem 20 mil. Pela diferença de tamanho dos dois países se vê a irresponsabilidade do governo brasileiro”, criticou. Ele informou que o problema ocorrido no porto de Paranaguá não foi identificado em outros portos.

Suspeita-se, porém, que o problema não tenha afetado somente as exportações de soja. Segundo economista Júlio Callegari, da Tendências Consultoria Integrada, também há exportações de papel e celulose que não foram contabilizados na balança comercial. Tanto no caso da soja quanto no da celulose, os economistas sabem que há exportações não registradas porque os números da balança são diferentes daqueles informados pelo setor privado.

Segundo a analista da Tendências Amaryllis Romano, os dados da Secex mostram queda de 13% nas exportações de celulose, enquanto os dados do setor privado apontam para um crescimento de 3,7%. Ela não vê nada de alarmante nem com relação à celulose nem com relação à soja, pois acha normal haver algum atraso na contabilização. “Isso acontece em todo o mundo, não é só aqui” afirmou. O problema com a soja chamou a atenção, disse ela, por causa do valor. “O peso da soja na balança é muito grande”, comentou. Mas no fim das contas, observou a analista, o resultado será o mesmo: as exportações de soja serão de US$ 5,8 bilhões, contra US$ 5,3 bilhões no ano passado.

Pelos cálculos da Tendências, há perto de US$ 1 bilhão em exportações realizadas e não registradas. Segundo Callegari, há algo próximo de US$ 850 milhões em soja e pouco mais de US$ 100 milhões em celulose.

Incorporando esse crescimento nas exportações, a projeção de saldo comercial da Tendências para este ano passou de US$ 6,7 bilhões para US$ 8 bilhões.

Callegari acha que o “aparecimento” das exportações de soja é positivo porque se contrapõe à avaliação generalizada que o saldo da balança só vinha crescendo às custas da redução das importações. Ele admite que as exportações estão fracas neste ano, principalmente por causa da perda do mercado argentino. “Mas não é algo tão ruim quanto se imaginava inicialmente”, comentou.

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