Rebaixamento é resultado do ‘desajuste do ajuste’, diz Belluzzo

O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Luiz Gonzaga Belluzzo diz que houve um erro na condução da política econômica. Na avaliação dele, um dos motivos que levou o Brasil a perder o grau de investimento foi a crença do governo federal de que o ajuste fiscal traria de volta a confiança do setor privado.

Questionado sobre a decisão tomada pela S&P, Belluzzo acredita que justamente a tentativa de impedir o rebaixamento acabou determinando a decisão da S&P. “Na verdade, a situação fiscal piorou depois do ajuste fiscal. A política monetária está contradizendo a tentativa de ajustar as contas porque piorou a relação da dívida/PIB. O déficit nominal também está piorando. Eu tenho muitas restrições em como as agências de risco se comportaram durante a crise (internacional). Elas se portaram muito mal. Cometeram barbaridades. Mas eu não tinha dúvida de que isso (o rebaixamento) iria ocorrer, pelos critérios das agências e pelo desajuste do ajuste”, diz.

Para o ex-secretário, o “desajuste do ajuste” nasceu da crença de que a confiança do setor privado seria recuperada com o ajuste fiscal. “Na verdade, foi produzido um efeito negativo sobre a expectativa do setor privado, sobre o comportamento dos balanços, das receitas esperadas, etc. E é claro que a economia teve uma recessão maior em relação àquilo que estava suposto na formulação do ajuste. A economia brasileira está caindo entre 2,5% e 3,0% e há uma dinâmica da dívida pública muito ruim, caminhando para mais de 70% do PIB (Produto Interno Bruto). É claro que os resultados apontavam para uma perda do grau do investimento”, afirma.

Impactos

Questionado sobre os impactos do rebaixamento, o ex-secretário de Política Econômica da Fazenda diz que muito já estava refletido “na curva de juros e no comportamento do câmbio”. “Vai haver um outro estresse no curto prazo, mas depois tudo deve se estabilizar. Vai haver uma estabilização numa situação ruim.”

Detalhando essa ‘estabilização ruim’, Belluzzo prevê uma economia que continua a perder força e a “avançar na recessão”, acrescida de “uma dinâmica fiscal perversa com aumento do déficit nominal”.

“É preciso fazer um gesto. A questão da CPMF (imposto que o governo tenta recriar para financiar a saúde), por exemplo. Era o melhor imposto que se poderia criar porque tem um efeito muito fraco sobre a maioria dos contribuintes, mas o governo não preparou bem isso. Perdeu a oportunidade de fazer e isso poderia ajudar bastante a contornar a situação fiscal, que foi provocada sobretudo pelos equívocos das políticas monetária e fiscal”, diz.

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