Assim como em grandes cidades, a vida no campo exige que muita coisa que seria jogada na natureza possa e deva ser reaproveitada. Um bom exemplo disto são os excrementos de suínos e aves.
Reaproveitar esse material, transformando-o em adubo, significa poupar o meio ambiente, pois sem o devido cuidado, que muitas vezes não ocorre, poderia poluir rios e solos.
No Paraná, o uso deste material orgânico não é nenhuma novidade. De acordo com o engenheiro agrônomo e coordenador da área de meio ambiente do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-PR), Benno Henrique Weigert Doetzer, o uso de excrementos de suínos e aves é antigo.
Além disso, esse produto ajuda a fazer o manejo do solo. “Reaproveitar os resíduos dos suínos e das aves (cama aviária) representa uma vantagem a mais para o produtor rural, uma vez que esses compostos são ricos em nitrogênio e fósforo, nutrientes importantes para balancear o solo”, salienta.
Doetzer informa que além de enriquecer a terra, o processo de reaproveitar estes materiais impede que sejam depositados nas águas, onde pode ocorrer a eutrofização.
“Esse fenômeno acontece quando há excesso de compostos químicos ricos em fósforo e nitrogênio na água. Por conta disso, há uma proliferação em excesso de algas, que contaminam o meio ambiente e diminuem consideravelmente o oxigênio nas águas, provocando a morte e consequente decomposição de muitos organismos, diminuindo a qualidade da água e eventualmente a alteração profunda do ecossistema”, revela.
Entretanto, o engenheiro agrônomo orienta que é preciso cuidado na hora de se depositar esses resíduos no solo. Ele lembra que esses materiais são fezes e o fato de ser orgânico não implica que deve ser despejado sem qualquer tipo de controle.
“Embora seja a melhor maneira de se reaproveitar esse conteúdo orgânico, é preciso seguir algumas observações antes de aplicá-lo no solo. É preciso também fazer um balanceamento dos nutrientes, ver o que tem no solo, o que quer e quanto quer produzir. Se bombardear o local sem controle com essa matéria orgânica, o produtor vai poluir a área e, com isso, ganhar outro problema”, alerta.
Doetzer comenta que para algumas culturas, a aplicação do material é bem interessante, enquanto para outras há a necessidade de aplicar em menor escala para que não ocorram alguns contratempos.
“Para as olericulturas em geral, a utilização desse adubo orgânico vale a pena, pois um solo mais rico de nutrientes melhora a produção. O milho é outra cultura em que a aplicação do fertilizante é bem-vinda, uma vez que a cultura necessita de bastante nitrogênio. No caso da soja, é preciso um certo cuidado, pois se aplicar em excesso pode fazer com que a planta cresça muito e atrase todo o seu processo produtivo”, orienta.
Ele também fala que os custos de produção com o reaproveitamento do material orgânico caem bastante. “Com o uso do material suíno ou de ave, o produtor pode suprir quase 100% da necessidade de nitrogênio e 60% de fósforo.
Porém, se a área plantada for muito extensa, não compensa utilizá-la em todo o espaço, uma vez que haverá um gasto com o combustível do maquinário em ir até onde o material está guardado até a plantação. O ideal é utilizar esse adubo numa área num raio de quatro ou cinco quilômetros”, orienta.
Iapar/Divulgação |
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O Iapar destaca que o agricultor deve tomar cuidado para não exagerar na quantidade desse material orgânico. |
Iapar desenvolve tecnologia
O Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) desenvolve trabalhos relacionados ao uso de adubos originários de dejetos de suínos e aves desde 1986. Recentemente, o instituto desenvolveu um programa de computador chamado Sistema de Aproveitamento de Resíduo Animal (Sara), que permite saber a dosagem certa para aplicação do dejeto líquido suíno ou da cama de aviário.
“O software faz essa determinação a partir de dados sobre teor de argila, profundidade do solo e declividade do terreno. Ele calcula tudo para que o produtor não exagere na dose. O programa está em fase final de desenvolvimento e em breve o produtor poderá baixá-lo do site do Iapar”, informa a pesquisadora e coordenadora do Iapar, Graziela Barbosa.
De acordo com a pesquisadora, o composto precisa descansar por um período que varia de 60 a 120 dias antes dele estiver apto a ser aplicado no solo. “Eles precisam passar pelo processo de compostagem (técnica para controlar a decomposição de materiais orgânicos com o objetivo de obter um material rico em nutrientes). Para a cama de aviário o tempo é de 60 a 90 dias, enquanto o dejeto suíno vai de 90 a 120 dias”, conta.
Barbosa diz também que o produtor precisa respeitar a dosagem máxima para não contaminar o solo. “Do material vindo dos suínos, a dose máxima é de 90 metros cúbicos por hectare/ano e das aves seis toneladas por hectare/ano e deve ser aplicado até duas vezes por ano, uma no verão e outra no inverno. Isso porém, não significa que o agricultor deve utilizar toda essa dosagem. Tudo vai depender do tamanho da área, da qualidade do solo, entre outros pontos”, afirma.
A pesquisadora orienta para que esse adubo seja aplicado apenas em plantios diretos. “Esse material deve ser colocado em cima da palhada da lavoura anterior. Não é recomendado utilizá-lo para o plantio convencional, uma vez que esse material é rico em gordura e não é interessante usá-lo desta maneira”, conclui.