Realização de lucros faz dólar bater em R$ 3,90

O dólar comercial voltou ontem a testar o patamar de R$ 3,90. O mercado mostrou novamente o tamanho da instabilidade que guarda para os dias anteriores ao segundo turnos das eleições. No encerramento dos negócios, a moeda norte-americana terminou a R$ 3,875, com alta surpreendente de 3,88%, apesar de várias intervenções do Banco Central no mercado a vista. Essa é a segunda maior cotação registrada em um fechamento durante o Plano Real. A maior foi de R$ 3,88, no encerramento dos negócios no último 27 de setembro.

Já a cotação de R$ 3,90, alcançada ontem durante os negócios da manhã, é a maior desde a sexta-feira 30 de setembro, véspera dos vencimentos dos contratos futuros e dívidas cambiais de outubro, quando a moeda bateu em R$ 3,967 durante o dia e encerrou a R$ 3,76. O dia ficou conhecido como a nova “sexta negra” do mercado.

A bolsa de valores de São Paulo fechou esta quarta-feira com uma queda de 1,48% em relação a terça-feira, com seu principal indicador, o Bovespa, caindo a 8.714 pontos. Na terça-feira, esse mesmo índice registrou uma queda de 0,18%.

Despiste

Porém, o segundo turno das eleições presidenciais é apenas um dos componentes de pressão do dólar sobre o real. E nem é o mais forte. Na verdade, a pressão no mercado de câmbio se deve principalmente a vencimentos de dívida públicas e privadas nas próximas semanas. Até o final do ano, vencem mais de US$ 9 bilhões apenas em títulos públicos atrelados ao câmbio. Na próxima semana vencem cerca de US$ 3 bilhões de dívidas do governo, já considerando a rolagem feita anteontem.

O mercado deu de ombros para a medida anunciada pelo BC na noite de segunda-feira para conter a escalada do dólar, aumentando de 50% para 75% a exigência de capital em reais para investimentos em dólar.

??Os bancos já estavam, quase todos, dentro dessa posição??, observou José Roberto Carreira, gerente de câmbio da Corretora Novação. ??Por isso, essa medida acabou nem fazendo diferença??, afirmou.

O BC também recolheu ontem do mercado R$ 5,2 bilhões com lastro em LTN (Letras do Tesouro Nacional), a uma taxa de 100,5% ao ano. A operação funciona da seguinte forma: o BC vendeu os títulos ao mercado ontem para recomprá-los no dia 13 de novembro, enxugando do mercado temporariamente esses R$ 5,2 bilhões.

O mercado também continua de olho na movimentação política, com as crescentes declarações de apoio ao candidato de oposição à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva.

Lula disputa o segundo turno no próximo dia 27 com o candidato governista, José Serra (PSDB). O mercado ainda guarda reservas à candidatura de Lula, inseguro a respeito de quem comporá sua hipotética equipe econômica.

Fraga admite: situação é preocupante

O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, disse ontem que a equipe econômica discutiu com o presidente Fernando Henrique Cardoso, durante almoço nesta quarta-feira no Palácio da Alvorada, a atual situação econômica.

– Não houve nenhuma pauta de assuntos específicos, e não se falou em números. Mas, o grupo todo debateu as causas da crise atual e se concluiu que se deve apresentar à sociedade uma visão mais fria e técnica do que está acontecendo – disse ele.

Fraga admitiu que o governo encara a situação atual como “preocupante”, mas não pessimista como tentaram mostrar os candidatos da oposição durante o debate eleitoral.

– Discordo radicalmente dessa visão porque essa idéia de que tudo tem que mudar assusta. É preciso acalmar um pouco esse clima pessimista – afirmou Fraga. O presidente do BC reiterou que a origem da atual crise está ligada ao cenário econômico externo. No entanto, Fraga reconheceu que essas turbulências estão afetando mais o Brasil que outros países do mundo.

Armínio Fraga classificou de “equivocadas e impensadas” as declarações recentes do megainvestidor George Soros, que afirmou que o Brasil tem 50% de chances de ser obrigado a reestruturar sua dívida a partir de 2003.

– Vale a pena ressaltar que esse clima atual não começou com as declarações equivocadas de Soros. Não concordo, no entanto, com essa visão, porque existe solução e ela não requer nenhuma mágica – afirmou Fraga, que já trabalhou ao lado de Soros antes de assumir o Banco Central.

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