Após operar durante a maior parte da manhã abaixo de R$ 3,50, patamar que cedeu ontem pela primeira vez desde 20 de setembro, o dólar fechou o dia a R$ 3,51 para compra e venda, em queda de 0,99%. As oscilações do dia se deram em torno de uma operação para alongar a dívida de US$ 1,9 bilhão que vence na quinta-feira, e da qual ainda resta metade a rolar.
Primeiro, o dólar caiu com força durante a manhã, quando exportadores se anteciparam em vender moeda prevendo uma queda maior após a operação. Depois, com a notícia de que a rolagem ficou aquém do esperado, a baixa se reduziu.
O Banco Central ainda não anunciou nova operação, e alguns investidores compraram dólares durante a tarde já se precavendo para o vencimento. A tendência da cotação, segundo analistas, continua sendo de queda, mas dependerá, nos próximos três dias, da atitude do BC em relação a dívida.
A liquidação, ao invés da rolagem, é positiva porque reduz a exposição do governo ao câmbio, mas por outro, causa pressão sobre o câmbio. Isso porque, embora o ajuste com o mercado aconteça independente da rolagem, se o BC “alonga” a dívida são abertos novos contratos usando a mesma taxa dos que vencem, o que diminui a pressão sobre o câmbio porque os investidores ganhariam com os títulos que vencem, mas perderiam com os novos.
Com a operação de ontem, o BC completou a rolagem de 48,95% do vencimento, ou US$ 897,6 milhões, mas cerca de três quartos desse montante haviam sido alongados na sexta-feira.
As taxas de remuneração pagas pelo BC também foram mais salgadas do que na sexta-feira, com exceção do vencimento mais curto, em fevereiro do ano que vem. Toda a rolagem foi feita em “swaps cambiais”, contratos que pagam ao investidor, no vencimento, a diferença entre a variação cambial e a os juros do período, mais uma taxa de remuneração.
Bolsa
A Bolsa de Valores de São Paulo fechou em pequena alta de 0,25%. O movimento de negócios chegou a R$ 276 milhões, com 9.893 pontos.
Mercado prevê alta
As expectativas de mercado em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesse e no próximo ano continuam piorando. Para 2002 elas aumentaram de 8,42% para 8,76% na pesquisa semanal feita pelo Banco Central (BC) com um grupo de 100 instituições financeiras e empresas de consultorias. A piora ocorreu na semana em que a possibilidade de guerra dos Estados Unidos contra o Iraque aumentou e os preços do petróleo no mercado internacional, em conseqüência, subiram. O pessimismo também atingiu as projeções para o próximo ano e as expectativas de IPCA saltaram de 8,20% para 9%.
As estimativas de crescimento para a economia em 2003 seguiram a direção inversa e caíram de 2% para 1,9%, reforçando um cenário de dificuldades no campo econômico para o primeiro ano de mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. As expectativas de expansão da atividade econômica no corrente ano, entretanto, ficaram estáveis nos mesmos 1,2% do levantamento realizado pelo BC na semana entre os dias 28 de outubro e primeiro de novembro. O porcentual, no entanto, é menor que os 1,4% projetados pelo BC no Relatório de Inflação divulgado ao final do terceiro trimestre do ano.
A pesquisa divulgada ontem pelo BC também revelou um ceticismo do mercado em relação ao espaço de manobra que restará ao governo Lula para promover uma redução dos juros mais acentuada em seu primeiro ano de mandato. A expectativa do mercado é de que a taxa Selic chegue ao final de 2003 na casa dos 18% ao ano, um valor apenas 3 pontos porcentuais menor que os 21% projetados para o fechamento do corrente ano.
As estimativas de déficit nominal do setor público sem câmbio para 2002 e 2003, em contrapartida, recuaram de 3,65% do Produto Interno Bruto (PIB) para 3,50% do PIB e de 3,30% do PIB para 3,20% do PIB, respectivamente. A diminuição pode indicar uma perspectiva melhor em relação a trajetória de crescimento da dívida líquida do setor público, que girava em torno de 63,9% do PIB ao final de setembro.