Rio
– O fim das eleições reforça as expectativas sobre reajustes nos preços dos combustíveis, contidos desde o início de julho. Segundo um especialista em comércio externo de petróleo e derivados, a defasagem dos preços da gasolina e do diesel com relação ao preço internacional já chega a 41% e 43%, respectivamente. O cálculo leva em conta a evolução das cotações do dólar e dos derivados no mercado norte-americano, usadas como referência pela estatal.Para o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), a Petrobras deveria promover um reajuste de 12% no preço da gasolina e de 15% no preço do diesel para realinhar seus produtos aos valores cobrados no mercado externo.
Pires considera que o reajuste deve ser menor porque a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o imposto federal sobre os combustíveis, amortece o aumento no preço final. A Cide representa cerca de 30% do preço final da gasolina. “O reajuste tem de ser feito o mais rápido possível. Quanto mais se adia, maior é o problema”, diz o consultor.
O analista de petróleo do banco Fator Dória Atherino, Luiz Paulo Foggetti, concorda. “Petróleo acima de US$ 27 deixou de ser atípico e dólar a R$ 3,50 também”, acrescenta, lembrando o argumento da volatilidade dos mercados usado pela Petrobras para justificar a falta de repasse nos preços. Foggetti acredita que um reajuste de cerca de 10% deve ser anunciado entre o fim desta semana e o início da próxima.
A Petrobras não se pronuncia sobre um eventual reajuste. Informa apenas que continua observando o mercado. As distribuidoras de combustíveis preferem não arriscar previsões. É consenso no mercado, porém, que a empresa vinha esperando apenas o fim do processo eleitoral para promover os reajustes. “Mas não dá para fazer no dia seguinte às eleições que fica na cara que a falta de repasses era eleitoreira”, diz Adriano Pires.
Alguns revendedores tentaram se antecipar a um provável reajuste e foram às distribuidoras para aumentar estoques em algumas regiões. Segundo um executivo do setor, houve problemas em Belo Horizonte, onde bases de algumas distribuidoras ficaram sem produtos por causa do aumento da procura dos donos de postos.
Pires lembra ainda que as duas refinarias privadas brasileiras – Manguinhos e Ipiranga – vêm tendo prejuízos, pois compram o petróleo a um preço mais alto que o de venda da gasolina. “Estas empresas podem ir à Justiça pedir ressarcimento dos prejuízos. O governo disse que o mercado era livre e não é”, avalia.
Segundo o consultor do CBIE, membros do governo relacionados à questão se reuniram na semana passada para discutir o assunto. Foggetti acredita que o governo deve estipular uma nova fórmula para os reajustes, usando a Cide para amortecer o impacto no bolso do consumidor. A lei que criou o imposto prevê que sua alíquota pode ser reduzida com este fim. O preço da gasolina, na bomba, subiu 10,7% desde janeiro, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP). A alta do diesel foi de 20.3%. O cálculo leva em consideração as médias mensais de janeiro e as de outubro.