Depois da TV digital, agora chegou a vez de se definir o padrão de rádio digital a ser implantado no Brasil. A expectativa é que até abril de 2008 o governo federal ?bata o martelo? e defina o melhor modelo a ser adotado. ?Durante todo o mês de novembro serão feitos testes para esclarecer dúvidas sobre a robustez do padrão norte-americano – o Iboc (In Band on Channel). Há quem diga que este padrão não é maduro o suficiente, mas nós contestamos?, defendeu o presidente da Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Daniel Pimentel Slaviero.
A preferência pelo Iboc – em detrimento dos modelos europeu e japonês – tem motivo. Segundo Slaviero, o padrão americano é o único que atende as características da radiodifusão brasileira, pois opera na mesma banda e freqüência em AM e FM. O sistema já vinha sendo testado por 16 emissoras desde 2005, porém agora conta com o acompanhamento e a orientação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações); a Universidade Mackenzie também está realizando testes para dar maior credibilidade e comprovar a eficácia dessa tecnologia.
De acordo com Slaviero, a idéia é formatar os resultados dos testes até o dia 15 de dezembro e enviar a análise para o Ministério das Comunicações. O ministro Hélio Costa fará, então, um relatório para dizer qual padrão deve ser adotado no País. O governo defende uma proposta híbrida: padrão americano para AM e FM e o europeu para ondas curtas. ?Depois de ficar clara, tecnicamente, a qualidade do sistema, o ministro fará um relatório para encaminhar à Casa Civil e à Presidência da República?, explicou. Segundo Slaviero, a expectativa é que no primeiro quadrimestre de 2008 seja definido o padrão da rádio digital.
Receptores
Uma vez definido o padrão da rádio digital brasileira, será a vez de se trabalhar com a indústria de receptores. Segundo o presidente da Abert, a transição das rádios do sistema analógico para o digital será feita de forma gradual. O investimento pelas empresas de rádio em novos transmissores e estúdios deve variar entre R$ 80 mil e R$ 120 mil, prevê. ?A idéia é começar pelas grandes cidades até chegar a rádios em cidades menores?, explicou.
A estimativa é que até três anos depois de definido o padrão, todas as capitais brasileiras tenham pelo menos uma emissora operando no sistema digital.
Para o consumidor, as maiores vantagens da rádio digital são o aumento da qualidade e os serviços agregados. ?A qualidade é muito maior. A rádio AM fica com a qualidade de FM e a FM de CD?, comparou. Já os serviços agregados incluem desde informações sobre a letra da música que está tocando, o cantor, até a temperatura.
Para ter acesso a toda essa tecnologia, o consumidor precisará comprar um receptor, que deverá custar inicialmente R$ 350,00. O valor, porém, deve cair para R$ 80,00 ou R$ 100,00 à medida que a nova tecnologia for difundida. Empresas como a Panasonic, a Sony e a Gradiente já anunciaram que têm capacidade de produzir e abastecer o mercado cinco meses após a definição do padrão. No Brasil, o potencial de mercado é estimado em 200 milhões de receptores.
Transparência na TV pública
Sobre a TV pública, que estreará no Brasil no dia 2 de dezembro, o presidente da Abert esclareceu que a entidade não é contra a iniciativa. ?Não somos contra a TV pública. Acreditamos, inclusive, que ela pode dar grande contribuição ao País. Nossa preocupação é quanto à fonte de financiamento?, comentou Daniel Pimentel Slaviero. A medida provisória que criou a Empresa Brasil de Comunicação – a futura rede pública do governo federal – prevê que terá R$ 350 milhões do Orçamento da União e outros R$ 60 milhões com publicidade. ?Ou a empresa é pública, financiada pela União, ou pelo mercado publicitário. Não tem como ser financiado por ambos?, defendeu o empresário.
A MP proíbe os anúncios de produtos e serviços na TV pública, mas libera a captação de publicidade institucional de entidades de direito público e privado, a título de apoio cultural. ?A Abert defende que essa questão fique clara, transparente. O governo se mostrou receptivo às discussões?, arrematou Daniel Slaviero. (LS)
