Uma semana após prestar depoimento espontâneo à Polícia Federal (PF) numa investigação sobre investimentos suspeitos do Postalis, o fundo de pensão dos funcionários dos Correios, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, defendeu o trabalho da SR Rating, agência de classificação de risco da qual é sócio licenciado. Segundo relatórios de órgãos de controle usados na Operação Pausare, deflagrada semana passada, a atuação da SR Rating teria corroborado investimentos suspeitos do Postalis.

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Após uma semana de silêncio, Rabello disse nesta quinta-feira, 8, em entrevista coletiva, que a SR Rating rebaixou a nota de risco de um dos títulos nos quais o Postalis perdeu dinheiro, conforme as investigações da PF e do Ministério Público Federal (MPF). Mesmo assim, o fundo de pensão aceitou uma repactuação nas condições desse investimento.

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Rabello disse que combinou com os investigadores que entregará, na semana seguinte ao carnaval, documentos para ajudar nas apurações. No âmbito da Operação Pausare, Rabello teve os sigilos bancário e fiscal quebrados e sua residência, no Rio, foi alvo de uma ação de busca e apreensão, após autorizações do juiz Vallisney Oliveira, da 10.ª Vara Federal do Distrito Federal. Como estava em Brasília no dia da operação policial, o presidente do BNDES se apresentou espontaneamente para prestar esclarecimentos à PF.

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Na semana passada, o Estado apurou que, em relação a Rabello, a investigação ainda estava no início e que a medida cautelar de busca e apreensão e o posterior depoimento dele tiveram como objetivo esclarecer sua atuação da SR Rating no caso.

Na entrevista desta quinta-feira, convocada com duas horas de antecedência, na sede da agência de risco no Centro do Rio, Rabello explicou a atuação da SR Rating na operação, por cerca de uma hora e meia: “A gente tem certeza absoluta, meridiana e completa, de que cumprimos rigorosamente nossa obrigação.”

O presidente do BNDES negou que a agência de risco tenha recomendado ao Postalis investir em operações fraudulentas. Rabello lembrou que o papel das agências de classificação, em todo o mundo, é avaliar o risco das diferentes operações de investimento, de empresas como um todo, ou até mesmo de países. As recomendações de investimentos, normalmente feitas por bancos ou consultorias, avaliam a relação entre o risco do investimento e o retorno esperado. Dessa forma, por natureza, as agências não dão aval a investimentos, já que não avaliam o retorno esperado para os investidores.

Segundo Rabello, a emissão de “cerca de R$ 100 milhões” de Cédulas de Crédito Imobiliário (CCI) da incorporadora imobiliária Mudar, uma das operações investigadas pela Pausare, recebeu nota BB+ da SR Rating. Na escala da agência brasileira, equivalente às das notas globais das principais pares internacionais, como S&P, Moody’s e Fitch, essa nota é de “grau especulativo”. “É um risco mediano, de qualidade de crédito módica, sujeito a vulnerabilidades internas e externas”, explicou Rabello.

Operação. O Postalis investiu nesses papéis entre 2010 e 2011. Em 2012, informou o sócio licenciado da SR Rating, o Postalis repactuou a operação de CCIs com a Mudar, aceitando postergar o recebimento de juros e retirar as garantias oferecidas (imóveis). Dois meses antes dessa repactuação, a SR Rating rebaixou a nota de crédito da operação da Mudar em dois graus. Uma cláusula do contrato da operação permitiria o Postalis, diante desse rebaixamento, cancelar o investimento e pedir o dinheiro de volta ou executar as garantias, ainda na versão de Rabello.

Mesmo assim, os administradores do fundo de pensão toparam a repactuação, disse Rabello, classificando a decisão como “inexplicável”. “Antes de desaparecerem as garantias, a gente já tinha rebaixado”, afirmou.

Desde outubro, o Postalis está sob intervenção da Previc, órgão regulador dos fundos de pensão. O Estado não conseguiu contato com os atuais administradores do Postalis. O ex-presidente do fundo Alexej Predtechensky foi um dos alvos da Pausare. O Estado não conseguiu localizar seus advogados na noite desta quinta-feira, 8.

Ainda na entrevista, o presidente do BNDES descartou a possibilidade de seu cargo à frente do banco de fomento, ou de sua pretensão de sair candidato à Presidência da República (Rabello foi lançado pré-candidato pelo PSC), ter dado conotação política à Operação Pausare. Questionado se chegou a cogitar deixar o BNDES por conta das investigações, Rabello respondeu: “Nem pensar”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.