A conta não fecha quando o assunto é o salário pago à maioria dos trabalhadores de Curitiba e região. Pelas projeções do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos do Paraná (Dieese-PR), dentre os profissionais com carteira de trabalho assinada, menos de 25% recebem remuneração igual ou superior a R$ 2.824,92. O valor é calculado mensalmente pelo Dieese para identificar o montante mínimo necessário para suprir as necessidades vitais básicas do trabalhador e as de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, conforme previsto na definição de “salário mínimo” na Constituição.
O percentual é baseado nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em 2011, somente 27,83% dos trabalhadores formais recebiam valores iguais ou superiores a quatro salários mínimos no Estado. “Com toda a defasagem entre o reajuste do salário mínimo e as demais categorias, certamente, menos de um quarto dos trabalhadores formais têm salário acima de R$ 2,8 mil”, avalia o economista do Dieese-PR, Sandro Silva.
Perfil
Outro indicador que desmistifica essa fartura de ofertas de emprego, no que envolve remuneração adequada, são as vagas da Agência do Trabalhador de Curitiba. Por semana, as oportunidades variam entre mil e duas mil vagas. Mas o salário é bastante restrito, admite a própria diretora da Secretaria Municipal do Trabalho e Emprego, Lenina Formaggi. “Provavelmente não tem nenhuma vaga com esse patamar de remuneração. Não é o perfil”, comenta.
Conceito de renda familiar
O economista do Dieese-PR explica que o valor ideal (R$ 2.824,95) leva em conta o conceito de renda familiar (dois adultos e duas crianças). “Tendo como parâmetro o valor da cesta básica mais cara no País, que é multiplicado por três, adicionamos outros itens como educação, para chegar ao valor”, explica. Mesmo com esse atenuante, o Dieese-PR considera baixa a qualidade do emprego ofertado no que se refere à remuneração. “O trabalhador tem ganho médio baixo, compromete mais de um quarto da renda com alimentação e paga muito imposto direta e indiretamente, até porque há defasagem de até 70% entre a tabela de Imposto de Renda e os índices de inflação que servem de base para o reajuste salarial”, alerta.