As debêntures, que levaram anos para cair no gosto dos investidores brasileiros, estão perdendo apelo com a queda na taxa básica de juros, a Selic. Os prêmios, que junto com o CDI ou as NTN-Bs, compõem as taxas de remuneração dos papéis, não estão mais compensando a redução nos juros básicos. “Os investidores estão desacelerando a compra de debêntures e indo para ativos mais interessantes, como fundos imobiliários e de ações”, disse o sócio-diretor do ModalMais, Ronaldo Guimarães.

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A debênture é um título de crédito privado – um papel de dívida emitido por uma empresa e negociado pela Bolsa de Valores. O título pode ser prefixado, atrelado, em geral, ao CDI ou às NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional série B), com rentabilidade definida pelo IPCA (inflação) mais uma taxa fixa, chamada de prêmio, ou pós-fixado, indexado a índices como a Selic.

O professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas Pedro Leão Bispo explica que as debêntures pós-fixadas estão sujeitas às variações econômicas de forma direta: se durante a vigência do título a taxa de juros for cortada, a expectativa de rentabilidade também cai. “Como qualquer decisão de investimento, é preciso fazer uma análise. Uma debênture de três ou cinco anos pode sofrer oscilação na taxa de juros no período”, explica Bispo.

Nos títulos prefixados, a rentabilidade é garantida, desde que seja respeitado o prazo de vencimento do papel. Ao negociar no mercado secundário, porém, o investidor fica exposto às variações da economia.

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Além das possíveis perdas relacionadas a indexadores e prazos, as debêntures têm o risco de mercado. Bispo explica que, por se tratar de uma negociação direta entre a empresa emissora do título e o investidor, os papéis não têm cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Em caso de falência ou calote, portanto, o processo de ressarcimento pode ser longo e burocrático.

Com números que chegavam a 180% do CDI, a rentabilidade na época de juros altos costumava compensar os riscos de mercado. Com a Selic no piso histórico de 5,5% ao ano, porém, os investidores só estão aceitando papéis que ofereçam prêmio de 4% somado ao IPCA, de acordo com um especialista que não quis se identificar.

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O IPCA acumulado em 12 meses até setembro está em 2,89%, de acordo com o IBGE, e a projeção dos analistas do mercado é que feche o ano em 3,42%, segundo o boletim Focus divulgado pelo Banco Central no dia 14.

Nos últimos 90 dias, a taxa das NTN-Bs com vencimento em 5 anos (2024) e 15 anos (2035) caíram 20% e 12%, respectivamente, para 2,28% e 3,26%, de acordo com a cotação da semana passada. “Em uma operação com vencimento médio de oito anos, com base na NTN-B 2030, que está rendendo IPCA + 2,95% ao ano, se o investidor fala que quer papel que rende IPCA + 4% ao ano, o prêmio tem que ser 1,05%, que para a maior parte das companhias com ótimo risco soa alto”, comentou a fonte.

Demanda fraca

Mesmo com títulos com prazo longo, a empresa de transmissão de energia elétrica Taesa teve na última emissão para pessoas físicas procura menor do que seria esperado em operação semelhante no início do ano: a demanda foi de 1,16 vez a oferta de R$ 450 milhões e a empresa captou R$ 509 milhões, pagando prêmio de 4,5% somado ao IPCA para papéis com vencimento em 2045.

A Petrobras é outro exemplo de como a queda da Selic vem comprometendo a atratividade dos papéis. Ao contrário de janeiro, quando teve demanda de R$ 12 bilhões para a emissão de R$ 3 bilhões, a petroleira recebeu propostas de até R$ 3,5 bilhões para captação de mesmo tamanho feita em setembro. As duas séries de debêntures da Petrobras têm vencimento em 2029 e 2034 e ofereceram remuneração atrelada ao IPCA somado a um prêmio de 3,6% e 3,9%, respectivamente.

A dificuldade em encontrar retorno faz, ao mesmo tempo, alguns investidores tomarem mais risco. “A queda das taxas futuras de juro, especialmente após a última reunião de política monetária (em setembro), tornou o mercado mais competitivo e seletivo. Está difícil escolher papéis. Especialmente porque alguns deles oferecem pouco prêmio para o risco do crédito”, disse a consultora de investimentos da Órama Sandra Blanco. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.