A rentabilidade das exportações nas cadeias têxtil-vestuário, couro-calçados, mobiliário de madeira, papel e produtos, eletrodomésticos e automotiva-autopeças foi afetada pela crescente apreciação cambial desde meados de 2004 e já impacta negativamente a receita das vendas externas desses setores, revela uma pesquisa da LCA Consultores, com base em dados elaborados pelo Instituto de Economia (IE) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Embora os exportadores possam, em tese, repassar aos preços externos a perda da rentabilidade, esse movimento é limitado pela própria concorrência, segundo o estudo. Isso justifica, por exemplo, a freqüente reclamação dos exportadores de que já estão vendendo com prejuízo ao exterior, apenas para manter mercados conquistados nos últimos anos e não ceder espaço à concorrência.
Na realidade, entretanto, algumas empresas, sobretudo as de médio e pequeno porte, não têm mais conseguido sustentar as perdas e saíram do mercado internacional. Isso ocorreu com pelo menos mil empresas no ano passado, segundo José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
A indústria moveleira, por exemplo, teve um desempenho exportador sofrível no ano passado, com forte desaceleração. Das 16.112 empresas do setor, 11 mil são microempresas, 3.372 são de pequeno porte e 752, médias. Em 2005, a alta das vendas externas foi de 5,3% sobre 2004, para US$ 990,4 milhões, mas em 2004 as exportações haviam crescido 42,2% ante 2003. ?Não temos a menor dúvida de que a queda no ritmo de investimentos é resultado do câmbio?, disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel), Domingos Rigoni.
O ano de 2005 também foi desanimador para a indústria couro-calçadista brasileira. O setor registrou uma diminuição de 20 mil postos de trabalho e uma retração de produção na ordem de 38 milhões de pares. As exportações caíram 11% de janeiro a dezembro, ante o mesmo período de 2004, e as importações, puxadas pelos produtos chineses, praticamente dobraram na mesma base de comparação. Na região do Vale do Sinos, uma das principais regiões exportadoras do Brasil, cerca de 60 empresas fecharam as portas. ?As indústrias calçadistas foram muito penalizadas ao longo do ano pela atual política econômica?, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Élcio Jacometti.
O desempenho exportador da indústria eletroeletrônica também perdeu ritmo. As vendas externas em 2005 cresceram 5% ante 2004, puxadas por aparelhos portáveis (29% de alta na mesma base de comparação). Mas as vendas de eletrodomésticos aumentaram 4%, abaixo da média do setor. O fato marcante é que em 2004 as exportações haviam subido 20% na comparação com 2003. Em nota, o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Paulo Saab, disse que o crescimento de 5% em 2005 ?surpreendeu?. Isso porque, por conta do câmbio, ele esperava aumento muito menor ou até desempenho negativo.
Outra desaceleração forte provocada pelo câmbio ocorreu no setor têxtil. No ano passado, as exportações cresceram apenas 5,8% ante 2004, para US$ 2,2 bilhões. No ano anterior, as vendas externas haviam aumentado 25,3% na comparação com 2003, para US$ 2,1 bilhões. O diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel, acredita que o câmbio foi o grande fator para a desaceleração nas vendas externas. Mas ele também cita o impacto negativo da concorrência dos produtos chineses em terceiros mercados.
As vendas externas de papel e celulose subiram 18,6% no ano passado, ante 2004, número forte, mas abaixo da média geral das exportações brasileiras, que foi de 23%. Já as exportações de autopeças ficaram acima da média nacional, com alta de 23,6% em 2005, em US$ 7,49 bilhões.
Os efeitos da queda de rentabilidade como resultado do câmbio têm sido mais fortes nos manufaturados de baixa e média intensidade tecnológica, segundo a LCA. As grandes empresas, sobretudo as transnacionais, podem suportar por mais tempo a queda no retorno se houver expectativa de melhora na taxa de câmbio. Mas as decisões de investimento em aumento da capacidade exportadora são ou anulados ou adiados por conta do câmbio desfavorável às vendas externas.
O estudo mostra, por exemplo, que a rentabilidade das grandes empresas brasileiras exportadoras era de 10,4% no terceiro trimestre de 2004, passando para 8,5% no segundo trimestre de 2005 e para 7,4% no terceiro trimestre de 2005.
As sugestões da LCA para as empresas montarem suas estratégias para a exportação de manufaturados em 2006 são a realização de operações financeiras de mitigação – antecipação de receita casada com operações de renda fixa ou em derivativos; esforço adicional de redução de custos; negociação para repasse aos preços, cujo alcance é muito limitado; e pressão política interna pela depreciação da taxa de câmbio ou outras compensações.