Queda na massa de rendimento do trabalhador gera retrocesso de 3 anos, diz IBGE

A redução nos salários e as demissões já provocam um retrocesso de três anos no nível da massa de rendimento dos trabalhadores, afirmou nesta sexta-feira, 29, o coordenador de Trabalho de Rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo. No primeiro trimestre deste ano, a massa de rendimentos somou R$ 173,45 bilhões, queda de 4,1% ante igual período de 2015.

“Isso já significa um retrocesso de três anos na massa de rendimento”, afirmou.

Uma massa de rendimento no patamar de R$ 173 bilhões foi observada pela última vez no segundo trimestre de 2013, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. O pico ocorreu no trimestre até janeiro de 2015, aos R$ 182,2 bilhões. O dado representa a soma dos rendimentos de todos os trabalhadores.

Hoje, o número de trabalhadores no Brasil está diminuindo, e o País já tem 11,089 milhões de desocupados, um recorde na série iniciada em 2012. Em apenas um ano, 1,384 milhão de pessoas perderam o emprego, o que contribui para a retração na massa de rendimentos, com consequente perda no poder de compra dos brasileiros.

Efetivação de temporários

A esperada efetivação de trabalhadores temporários no início do ano não aconteceu em 2016, afirmou Azeredo. Com isso, 2,016 milhões de pessoas engrossaram a fila de desemprego apenas na passagem do quarto trimestre de 2015 para o primeiro trimestre de 2016.

“A efetivação de trabalhadores temporários não ocorreu neste ano, pelo contrário. Foram dispensadas mais pessoas do que foram contratadas no fim do ano”, disse.

A prova de que a efetivação não ocorreu é a demissão de 1,606 milhão de pessoas no período analisado, segundo dados da Pnad Contínua. Embora demissões sejam um comportamento comum no início de cada ano, Azeredo notou que neste ano foi diferente.

“A população ocupada caiu além do que costuma cair nesta época”, afirmou o coordenador.

No primeiro trimestre de 2015, o número de ocupados havia recuado 0,9% ante igual período do ano anterior. Entre janeiro e março de 2016, no entanto, a queda foi de 1,7% no mesmo tipo de confronto.

As demissões foram generalizadas. Entre o quarto trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2016, a indústria dispensou 645 mil, o comércio demitiu 280 mil e a construção fechou 380 mil vagas. A administração pública (que inclui defesa, seguridade social, educação e saúde) também contribuiu com a extinção 299 mil postos. Outros setores também demitiram, embora em menor quantidade.

A dispensa de 1,606 milhão apenas no período de um trimestre é recorde na pesquisa, assim como o aumento de 2,016 milhões no número de desocupados no primeiro trimestre deste ano ante os últimos três meses de 2015. Segundo Azeredo, as demissões de trabalhadores acabam tornando necessário que mais pessoas de um lar procurem emprego, por isso o número tão impressionante.

“Essas pessoas dispensadas tendem a buscar outro trabalho e muitas vezes levam pessoas do círculo domiciliar a tentar trabalhar também. Pessoas que estão fora da força de trabalho, como jovens e aposentados, estão buscando trabalho para tentar recompor renda perdida”, disse o coordenador.

Efeitos do cenário econômico

A taxa de desemprego está avançando num ritmo cada vez mais rápido, e as complicações no cenário econômico prolongam o período que o mercado de trabalho levará para se recuperar, afirmou Cimar Azeredo. No primeiro trimestre de 2016, a taxa de desocupação subiu a 10,9%, segundo a Pnad Contínua.

Houve alta de 3 pontos porcentuais em relação ao resultado do primeiro trimestre de 2015 (7,9%), um recorde na pesquisa. Essa diferença vem crescendo a cada nova divulgação. No trimestre até fevereiro, por exemplo, a diferença em termos anuais havia sido de 2,8 pontos porcentuais. “A alta na taxa de desemprego está em aceleração”, disse Azeredo.

O período mais recente está sendo “mais agressivo” em termos de dispensa, acrescentou o especialista. Só entre o quarto trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2016, 1,606 milhão de pessoas foram demitidas, mais do que na comparação de um ano inteiro (foram 1,384 milhão de dispensas ante os três primeiros meses do ano passado). A explicação vai além da sazonalidade do período, marcado por dispensa de temporários. “Não houve efetivação”, disse.

O ciclo de avanço no desemprego em termos anuais começou ainda no final de 2014 e não parou desde então. “Quanto mais complicado está o cenário econômico, mais tempo o mercado de trabalho levará para reduzir a desocupação”, alertou o coordenador do IBGE. Insegurança política também pode afetar negativamente o mercado de trabalho, reconheceu.

“Qualquer incerteza pode levar investidores a pisar no freio. Você faz isso na sua casa, e os geradores de emprego também vão fazer isso no momento em que a incerteza pairar sobre a economia”, afirmou Azeredo.

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