O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, avaliou que o Banco Central manterá a taxa básica de juros estável em 14,25% ao ano até o segundo semestre de 2016. O BC só agirá, continuando a elevar a Selic, de acordo com ele, se houver um overshooting cambial (valorização excessiva do câmbio). “Minha interpretação da ata do Copom é a de que a contingência hoje está quase toda concentrada na taxa de câmbio. Se subir além de R$ 3,50, daí vão ter de considerar”, disse.

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O economista concorda com a análise do BC de que o repasse do dólar para os preços atualmente está menor do que no passado. “O repasse é menor, mas não é zero”, ponderou. Pelo modelo do Itaú, esse pass-through (aumento dos preços internos) é de 7% ante 5% apontados pelo BC. “Não é muito, mas dá impacto”, disse.

Goldfajn previu que a queda do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano será o fundo do poço em termos de magnitude, mas ele acredita que a tendência de retração continuará nos meses seguintes. Hoje, o BC divulgou queda de 0,58% do IBC-Br em junho ante maio e o PIBIU do banco recuou 1,1% no mesmo período.

“O segundo trimestre é o fundo do poço, mas as quedas vão continuar no terceiro. Sem dúvida, porém, esta foi a pior queda”, salientou. Segundo ele, câmbio já está próximo do ponto de equilíbrio.

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“Vejo que as sementes do crescimento futuro estão plantadas”, disse Goldfajn, citando, além do novo patamar do real, o realinhamento de preços administrados e a “desalavancagem” da economia, com a redução das dívidas por parte das empresas e também do governo, como resultado do ajuste fiscal em curso. “Tudo isso, invariavelmente, levará a crescimento futuro. Mas ainda não será em 2016”, disse ele, que foi diretor do Banco Central de 1999 ao início de 2003.

O economista considerou que a hipótese de se trabalhar com um resultado primário de zero passou a ser um número positivo. “Nos próximos dois anos, vamos ver (a relação) dívida/PIB crescendo”, salientou, informando que sua projeção para essa relação em 2017 é de 73%. Nesse cenário do Itaú Unibanco, atingir a meta de 0,7% do PIB no ano que vem é difícil. A casa trabalha com um porcentual de 0,2%. Em 2017, essa relação pelos cálculos da instituição, será de 1,3% do PIB. “Vale lembrar que nossos números são menores do que os do mercado, nossa previsão de crescimento é menor e a Selic só cai na segunda metade de 2016.”

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Para Goldfajn, às vezes a política econômica é a arte da defesa também. “É não deixar as coisas piorarem por questões conjunturais”, disse ele que já ocupou uma vaga de direção no Banco Central. “Política econômica é a arte do possível”, acrescentou. O economista disse que analisou a Agenda Brasil, divulgada há cerca de 10 dias, e que ela é “ótima”. “O problema não são as agendas, mas implementá-las”, considerou. Ele comentou também que o governo está tendo agenda de reformas, mas não é possível saber ainda se vão sair mudanças como no ICMS ou PIS/Cofins, por exemplo.