O recuo de mais de 2% do etanol na primeira leitura de maio surpreendeu o coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), Rafael Costa Lima. “Não contávamos com uma queda tão forte do etanol nesta leitura, mas sim ao longo do mês. É a entrada da safra de cana ganhando mais força. Já os preços de remédios não subiram tanto como o previsto”, disse o economista ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, ao justificar a alta de 0,45% do IPC na primeira medição do mês, contra estimativa da Fipe de 0,48%. No encerramento de abril, o índice foi de 0,53%.
De acordo com a Fipe, os grupos Transportes e Saúde tiveram taxas de 0,04% e de 1,31%, respectivamente, ante expectativas de 0,12% e de 1,37% para a primeira quadrissemana de maio (últimos 30 dias terminados na quarta-feira passada). O etanol teve deflação de 2,14% ante recuo de 0,84% no fim de abril, enquanto a gasolina caiu 0,21%, depois de um aumento de 0,13%. Por fim, a variação dos remédios ficou positiva em 2,74% (de 2,26%). “O IPC ainda sofreu influência baixista de pacotes de viagem, que desaceleraram. Nesta pesquisa, os preços das passagens aéreas aparentemente se acomodaram, passado o terrorismo por causa da Copa. A percepção de que a demanda para o evento será forte parece que não está se confirmando”, avaliou.
Entre o fim de abril e o começo deste mês, o item Viagem/Excursão passou de 1,92% para 0,83%, enquanto passagens aéreas foram de 1,54% para 0,69%, permitindo desaceleração do grupo Despesas Pessoais (de 1,00% para 0,87%). Por outro lado, ressaltou Costa Lima, as bebidas não alcoólicas subiram 1,01%, ante 1,20%, e as alcoólicas tiveram alta de 0,42%, após deflação de 0,44% no término de abril. “No geral, a pressão ainda vem da inflação de Despesas Pessoais e de Saúde. Habitação ajudou a segurar um pouco o IPC e deve continuar ajudando. Já Vestuário veio com uma taxa baixa (0,33%), enquanto o frio não emplaca de vez”, disse.
De acordo com a Fipe, o grupo Habitação saiu de uma elevação de 0,04% no fechamento do mês passado e avançou a 0,06% na primeira quadrissemana de maio. Ainda que a taxa tenha acelerado, alguns serviços de utilidade pública ajudaram a manter a variação perto da estabilidade, conforme Costa Lima. Um deles foi energia elétrica, que teve queda de 0,27%, água/esgoto, com declínio de 1,65%, e telefonia fixa, que teve retração de 1,90%. Na contramão, gás de botijão subiu 0,64%. A expectativa do economista é de que o grupo feche o mês com alta de apenas 0,03%, devido ao efeito do desconto de 30% para os consumidores da Sabesp que reduzirem o consumo de água em São Paulo. “Esperamos um recuo de quase 6,5% em água/esgoto no final do mês”, estimou.
Ainda em relação ao conjunto de preços de Habitação, Costa Lima chama a atenção para o aumento dos preços de itens de limpeza e higiene, como sabão em pó (3,16%), sabonete (5,29%) e desodorante (4,57%), e de equipamentos eletroeletrônicos (0,84%), com destaque para as altas de geladeira (1,99%), máquina de lavar (1,07%) e fogão (1,39%). Em relação ao segundo item, o economista presume que o movimento possa estar relacionado às vendas do Dia das Mães, comemorado ontem (11). “Também é curiosa a queda de aparelhos de imagem e som (-1,71%). Pode ter um efeito Copa no sentido de que houve muito lançamento. Se é que isso está acontecendo, os outros aparelhos (mais antigos) estão ficando mais baratos”, disse, dando como exemplo o recuo de 1,96% de televisor e de 1,60% de aparelho de som.
Alimentação
A alta de 0,88% do grupo Alimentação apurada pelo IPC na segunda quadrissemana de maio veio praticamente dentro do esperado por Costa Lima, que era de elevação de 0,85%. Segundo ele, a desaceleração do subgrupo industrializados – ainda que não tenha sido tão intensa (de 1,36% para 1,29%) – foi uma das que mais ajudaram a aliviar o grupo Alimentação, por ter o maior peso. O economista disse que os itens que mais contribuíram para o movimento de desaceleração foram os derivados do leite (1,87%) e os derivados da carne (1,55%), além de panificados (1,30%). “Ainda tem muita pressão dos industrializados, mas já está diminuindo bem. Tudo indica que na próxima quadrissemana terá taxa menor”, disse.
Os alimentos semielaborados também desaceleraram na passagem do fechamento de abril (3,39%) e da primeira leitura de maio (2,21%), com “impacto grande” das carnes bovinas (de 2,71% para 0,45%). “É uma notícia boa. Na ponta (pesquisas mais recentes), a carne bovina já está caindo. Por outro lado, os leites estão em nível elevado (de 7,52% para 6,56%), mas diminuindo o ritmo de alta”, ponderou.
A deflação dos alimentos in natura prosseguiu na primeira quadrissemana de maio, de 2,83%, após recuo de 3,21%. Segundo Costa Lima, todos os itens estão recuando, exceto tubérculos (8,98%), que está sendo puxado pela alta da batata (19,38%). “A tendência é que os preços da batata se reequilibrem, mas ainda devem vir fortes ao longo de maio”, avisou, acrescentando que as frutas tiveram queda de 3,07%; os legumes apresentaram declínio de 8,32%. “Já Alimentação fora do Domicílio desacelerou (de 1,54% para 0,93%), mas ainda está muito alta”, completou.